Artigo
Santo Antônio da Platina, PR
22/01/2025
Paulo Bassani
A
civilização contemporânea enfrenta uma crise de múltiplas dimensões, refletida
em diversos aspectos de nossa vida individual e coletiva. Primeiramente,
observamos um desgaste crescente na relação entre a humanidade e a natureza,
resultado de um impacto ambiental devastador que revela nosso descuido com o
planeta, a "casa comum" de todos. As nossas necessidades e a volúpia de nosso consumo ultrapassaram a capacidade reprodutiva do patrimônio natural, ou como queiram
dos recursos naturais.
Vivemos um tempo de aquecimento global, depois chamado de mudança climática e agora, presente nas ultimas grandes conferencias munidas da ONU- COPs e dos estudos do IPCC de emergência climática, emergência pelo fato de que estamos vivendo dentro dela e com o agravamento de todos os indicadores considerados como demarcadores desse estágio antropocêntrico que com forte pisada na biosfera planetária vem emitindo e extraindo mais do que o suporte de equilíbrio existente na teia da vida.
Essa situação é agravada pela aceleração do estilo de vida imposto pela alta modernidade, impulsionada por avanços técnico-científicos que, aliados a uma sociedade de consumo desenfreado, transformam radicalmente nossos modos de viver, modo de lidar com as coisas e com as pessoas.
Outro
fator crucial é a revolução vinda posteriormente e a internet, que é o fenômeno das redes
sociais, que redefiniram profundamente a comunicação, a informação, os
relacionamentos e até mesmo o conceito de amizade, confiança e de interação
entre as pessoas. Essas transformações
digitais refletem e, ao mesmo tempo, intensificam as mudanças profundas que
estão moldando a história da civilização humana, nesta etapa civilizatória que
chamamos de alta modernidade.
Jacques Delors, em sua visão para a educação do século XXI, propôs quatro pilares essenciais: "aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a viver juntos". Esses fundamentos são vitais para desenvolver a capacidade crítica e orientar as transformações necessárias em todos os níveis educacionais. Talvez esse procedimento de apreender a apreender esteja hoje muito distante de atingirmos níveis satisfatórios, em função que o individualismo e a negação dialógica que, as redes sociais impõem, não conseguimos reverter em outros espaços tradicionalmente utilizados para os diálogos de aprendizagens e troca de experiências. Observamos que estes elementos são diferenciados diante do que vem se demonstrando, as redes sociais com todos seus aplicativos, alienantes, fragmentados e mercadológicos, criam um enorme conjunto de tolos isolados em falas soltas, que transformam o senso comum em idiotice.
A literatura distópica, como "Admirável Mundo Novo" de Aldous Huxley e "1984" de George Orwell, expressam angústias que ecoam nas preocupações atuais. Hoje, somos confrontados com incertezas relacionadas ao impacto da inteligência artificial em nossas vidas cotidianas. Facilitando algumas questões profissionais e mercadológicas, por outro lado diminuindo a capacidade cerebral do pensar, algo fundamental da essência humana, que nos identifica que nos caracteriza. Enquanto alguns adotam uma postura otimista, outros são mais críticos ou pessimistas estabelecendo questionamento necessários a este quadro que se configura de forma rápida e hegemônica. Ariano Suassuna, diante de um mundo em profundas transformações, por exemplo, preferia manifestar-se como um "realista esperançoso", enquanto Raul Seixas se via como uma "metamorfose ambulante", refletindo a fluidez e a adaptabilidade necessárias em tempos de mudança. E as mudanças que estamos assistindo e dentro delas sofrendo as influencias que nos são determinantes, pois elas nos apanham na entrada, no percurso e na saída. Elas penetram em nossa derme e epiderme, em nosso ser, pensar e agir, determinando sua forma única. Podemos resistir, mas as influencias estão a nos rodear como num iceberg perdido no mar, sem rumo sem destino.
É
inegável que a alta tecnologia vigor afeta nossas emoções, afetos, percepções
de mundo, e maneiras de vivenciá-lo. Nesse contexto de transformação acelerada,
é crucial refletir sobre a nossa condição humana e o que significa estar vivo
em nosso planeta, neste momento da história. Devemos nos submeter ao controle
das máquinas? Enfrentaremos um conflito entre o mundo real e o virtual, como na
distopia de "Matrix"? A realidade é que a perspectiva atual está
imersa em incerteza, em riscos, em dúvidas enormes e, precisamos estar
preparados para enfrentar os desafios e dilemas que ela nos apresenta.
*Paulo Bassani é cientista social
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