ARTIGO
A ecologia social e as relações
humanas*
Félix Guattari em sua obra As três ecologias afirmava, “A ecologia social deverá trabalhar
na reconstrução das relações humanas em todos os níveis do socius” A relevância desta afirmação para a
humanidade nesta segunda metade da década de vinte do século XXI é fundamental,
e de uma importância vital. Ela nos faz pensar na recuperação do ser humano,
num tempo de desumanização, escassez, de guerras, fome, miséria e de emergência
climática. Se, as primeiras referenciam,
a determinados países, etnias, segmentos sociais, a última, diz respeito a
todos nós. Não há outra opção!
As tentativas de acabar com as guerras e
conflitos, com a fome e a miséria, se estendem por anos, décadas, até mesmo
séculos. Hoje não temos esse tempo de espera para reverter o processo instalado
da emergência climática. O planeta foi e esta sendo altamente impactado pelas
tecnologias modernas que imprimiram um desgaste enorme sobre os biomas
planetários continentais e marítimos, em todos os continentes em todos os
mares. Nossa experimentação social que
atribui a dominação da natureza sob todos os aspectos fracassou e nos levou a
este quadro.
Nunca se falou tanto sobre a
situação que nos encontramos. Já não bastam encontros, conferencias,
protocolos, acordos que depois de declarados, assinados, são imediatamente
esquecidos nas prateleiras da história. O não cumprimento destes pelas razões
econômicas, sócias, políticas e pelos modos de viver adquiridos nesta
contemporaneidade, merecem um frear imediato, para começar, na seqüência, a
recompor as peças perdidas e destroçadas pelo estilo moderno de viver.
O problema cola-se da seguinte
maneira: Haverá possibilidades da ecologia social reivindicar seu lugar na
história como recompositora de nossas relações sociais destroçadas. Haverá
possibilidade de um consenso mínimi, respeitando as diversidades, para viver. Haverá
tempo para implementar tais transformações profundas e necessárias ao nosso
tempo. Ou estaremos condenados a um fim
trágico num planeta que nos acolheu e agora nos expulsara. Pois ele que necessitou
de nós para existir, mas que possibilitou a experiência humana por esses cerca
de 200 a 230 mil anos. Agora numa sexta extinção já elegeu seu algox, os
próprios seres humanos que não souberam usufruir das benesses que um planeta que
nem tão distante de uma estrala, assim com nem
tão próxima possibilitou as condições de habitabilidade da vida e da
vida humana.
Por
isso que hoje se faz importante pensar qual o
pensamento que nos levou até aqui e qual o pensamento, conhecimento e práticas que vai nos orientar daqui para frente. Esse
será um enorme desafio que teremos que enfrentar! Trata-se de abrir espaços
para outros saberes, deixarmos de lado a forma como o sistema hegemônico nos
colocou num cenário avassalador, para que outros saberes e praticas possam
entrar em cena.
Sabemos,
filosófica e cientificamente, que outros saberes, outras experiências estão aí,
apenas precisamos descobri-las, ou até mesmo dar visibilidade a muitas delas
que ocorrem as margens hegemônicas. No geral não tiveram espaço para crescer,
para se demonstrar, para ter visibilidade. Sem contar que existem outros tantos
que ainda não são visíveis se encontram em fase embrionária, outros que ainda
não nasceram, mas se cultivarmos um chão fértil poderão nascer, emergir e
demonstrar toda sua força, seus cores, seus brilhos.
Essa percepção, a
partir, da compreensão de que nossa existência e continuidade depende desta
atitude que reverta os estragos para estabelecer uma recuperação e posteriormente
uma preservação horizontalizada de nossa história colada a história natural de
que somos componentes partes autodestrutivas, porém também pensantes e
responsáveis.
Eduardo Galeano afirmava, “Devemos tomar consciência que os direitos da natureza e os direitos humanos, são dois nomes da mesma dignidade. E qualquer contradição é artificial”. Quem sabe nessa mudança paradigmática as guerras, conflitos, fome e miséria poderiam ser estancadas nessa compreensão sensível do modo de viver apreendendo e compartilhando o tempo de vida com todos os seres vivos que coabitam na biodiversidade planetária. Ai seremos humanos de fato em todos os níveis do socius, como aliados, amigos na formação de uma mesma Teia da Vida.
*Paulo Bassani é cientista social
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