Artigo
Santo Antônio da Platina Paraná - Brasil
18/09/2024
https://www.portaltanosite.com/noticia/144667/movimento-do-pensamento
Movimento do pensamento*
Quando pensamos, ao entrar nesse fluxo
de reflexão sobre nós, humanos, ativamos um dos traços mais singulares que nos
define enquanto espécie: a inteligência. No entanto, essa inteligência não é um
fim em si mesmo, mas o início de uma jornada, de um processo de vida. Podemos
dizer uma travessia que nos conecta a uma complexidade de questões
existenciais, que vão além de nossa capacidade racional. Tornamo-nos, então,
sujeitos de um significado especial, de uma história única, não em comparação
com as outras espécies, pois somos diferentes, nem melhores, piores, o que podemos
dizer que temos uma mesma origem que demanda da biodiversidade planetária. Por
isso somos, estamos e fazemos parte de um processo de integração com toda a teia da
vida.
O movimento do pensamento surge da
motivação emocional, da capacidade de ver, observar, sentir e reagir ao mundo.
É esse sentimento que nos permite mover entre a alegria e a tristeza, o sorriso
e o choro, a demência e a sapiens, desenhando um caminho sensível entre o que
experimentamos e o que imaginamos.
A imaginação, nesse contexto, não é
apenas um jogo brincalhão da mente, mas uma força vital, uma corrente interna e
externa que flui em nós e ao nosso redor, alimentando, retroalimentando e moldando
a forma como percebemos como captamos o mundo. Ao imaginar, resgatamos
memórias, reinterpretamos vivências e construímos novas possibilidades de ser e
agir. Imaginar não apenas num início, nem tão pouco de um fim, mas de uma
caminhada onde haverá luz e também a escuridão, algumas poucas convicções e
muitas dúvidas.
A imaginação, assim, se converte no
motor de um processo criativo ininterrupto, ela vicia nosso cérebro a
funcionar, quase que permanentemente. Ela, a imaginação, impulsiona o
pensamento a prospectar novas formas de ver o mundo, a desconstruir velhas
verdades e construir novas. Como dizia o poeta “ser uma metamorfose ambulante”
Nesse movimento, criamos algo e, ao criar, transformamos não só o mundo
externo, mas também o interno. Alimentados pela leitura, pela reflexão e pela
troca de idéias no ritual dialógico, o ato de pensar e imaginar encontra um
terreno fértil.
A fala e a escrita, ferramentas dessa
construção, são o elo que transforma o imaginado em realidade concreta, em um
conhecimento que pode ser compartilhado, debatido, ampliado e aplicado em
certas condições mesmo que embrionariamente.
Todo conhecimento gerado nesse processo,
ao tocar nossa mente e nosso espírito, provoca uma profunda emoção. Esse estado
de comoção, uma vibração interna que se irradia do pensamento para o corpo,
permite que a mente humana reaja. É nesse momento que a sensibilidade se eleva,
ao mesmo tempo em que estamos mais conectados com o mundo e com nós mesmos,
podemos nos distanciar pare ver, observar e entender melhor as manifestações do
viver. A emoção, por sua vez, alicerça o saber, fixa o aprendizado, tornando-o
uma parte indissociável do modo como experimentamos a realidade.
Esses saberes e aprendizagens vão se
entrelaçando, na medida em que a maturidade e capacidade intelectual avançam e,
ao longo do tempo, transformam-se em comportamentos, em atitudes que marcam
nossa existência.
Formam a essência do nosso ser, moldando
a forma como habitamos o mundo, como nos expressamos e interagimos com os
outros, em casa e na rua, no privado e no social. Essas atitudes, quando se
multiplicam e se unem em um coletivo consciente, oriundas desses construtos
criam a possibilidade de gerar um novo mundo. Um mundo não apenas imaginado,
mas construído na prática, nas relações, nas escolhas. Um mundo sonhado, sim,
mas também desejado e necessário, uma tentativa de trazer à realidade o ideal
de um viver que seja finito, mas pleno, limitado, mas sensível, onde o pensar,
sentir e viver se relacionam de maneira horizontal. Assim vamos apreendendo os
caminhos.
*Paulo
Bassani é cientista social