Artigo
Folha de Londrina
Espaço Aberto, pág. 02
02/07/2024
Londrina, Paraná, Brasil
Paulo Bassani
Ampliando a tensão mundial*
Albert Einstein certa vez
afirmou: “Existem apenas duas coisas infinitas: o universo e a estupidez
humana. E não tenho tanta certeza quanto ao universo.” Essa citação reflete bem
a atual situação global em relação às armas nucleares.
Dados divulgados em 17 de junho
de 2024 pela Campanha Internacional pelo Banimento de Armas Nucleares (ICAN)
revelam que, em um único ano, US$ 91 bilhões foram gastos em armas nucleares
por nove países: EUA, China, França, Índia, Israel, Coréia do Norte, Paquistão,
Rússia e Inglaterra. Destes, os Estados Unidos, uma nação que se autodenomina
um bastião da democracia, lideram os gastos com impressionantes US$ 51,5
bilhões, superando a soma dos demais países.
Alicia Sanders-Zakre, da ICAN,
declarou que “a aceleração dos gastos com essas armas desumanas e destrutivas
nos últimos cinco anos não está melhorando a segurança global, mas
representando uma ameaça global”. Nos últimos cinco anos, o investimento total
em armas nucleares atingiu US$ 387 bilhões.
Atualmente, existem aproximadamente
mais de doze mil ogivas nucleares ao redor do mundo. De acordo com o Instituto
Internacional de Pesquisas da Paz de Estocolmo (SIPRI), 3.904 dessas ogivas
estão prontas para lançamento imediato por mísseis e aeronaves. Isso levanta
questões sobre quem são os "inimigos" e qual é o propósito de
tamanhos investimentos em armas de destruição em massa? Sabemos que nessa ação
nuclear ninguém será vencedor, teremos apenas perdedores.
O potencial destrutivo das
armas nucleares é amplamente reconhecido. Apenas algumas delas poderiam devastar
o meio ambiente global, causar inúmeras mortes imediatas e deixar vastas áreas
inabitáveis devido à radiação. Essa radiação comprometeria a qualidade da água,
do ar, da flora, da fauna e da produção de alimentos, tornando impossível a
vida saudável nas regiões atingidas diretamente e pela radiação espalhada mundo
afora.
Em abril passado, a Academia
Nacional dei Lincei, em Roma, sediou uma conferência sobre os riscos nucleares
e o controle de armas. O evento contou com a participação de professores universitários
acadêmicos, representantes de organizações internacionais e diversos laureados
com o Prêmio Nobel. Apesar das análises detalhadas, poucos resultados práticos
foram alcançados.
Em 17 de junho de 2024, Jamil
Chade, colunista do UOL para a Folha de São Paulo, afirmou que “as principais
potências militares do mundo ampliam de forma dramática seus investimentos em
armas nucleares, ampliando a tensão internacional”. Os acordos de redução de
ogivas nucleares pós-guerra fria parecem não estar sendo respeitados, pelo
contrário, há uma intensificação na construção de novas armas nucleares com
tecnologias ainda mais destrutivas.
A ONU promove anualmente o
"Dia Internacional para a Eliminação Total das Armas Nucleares",
reafirmando, recentemente, o compromisso com um mundo livre dessas armas e as
catástrofes humanitárias que sua utilização causaria. No entanto, os esforços
têm sido insuficientes para conter a proliferação.
A atual tendência indica que os
investimentos em armas nucleares provavelmente continuarão a aumentar nos
próximos anos, uma situação altamente perigosa para a vida no planeta. EUA e
Rússia juntos possuem quase 90% de todas as armas nucleares. Com os conflitos
na Ucrânia, na Faixa de Gaza, no Sudão e outros locais, o risco de uma escalada
nuclear cresce, colocando a humanidade em perigo iminente.
Albert Einstein advertiu que o
ser humano não pode ser tão insensato quanto um rato que constrói sua própria
ratoeira. Ele também questionou: "Por que essa magnífica ciência aplicada,
que poupa trabalho e torna a vida mais fácil, nos traz tão pouca felicidade? A
resposta simples é: porque ainda não aprendemos a fazer um uso sensato
dela." Einstein acreditava que a paz e o bem-estar da humanidade não podem
ser alcançados pela força, mas através do diálogo e da compreensão.
O dinheiro gasto em armas
nucleares poderia ser redirecionado para investimentos racionais, inteligentes
e humanitários: saúde, educação, habitação, combate à fome e à miséria, geração
de empregos e preservação da biodiversidade. Essas são iniciativas de cuidado
com a vida e que promovem um planeta seguro e habitável para todos os seres
vivos.
É essencial desenvolver uma
consciência de prioridades, valorizando a diversidade, o respeito e o cuidado
com a vida nesta única Casa Comum. Como cidadão e cientista social, sinto o
dever de alertar que o caminho atual levará à destruição do frágil e belo
planeta que habitamos se já não bastasse às mudanças climáticas em curso com
seus extremos climáticos. A trajetória que seguimos é equivocada e perigosa, e
urge uma mudança de direção para garantir a sobrevivência e a continuidade da
vida em Gaia.
*Paulo Bassani é cientista social e ambientalista
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