ARTIGO
Folha de Londrina
Espaço Aberto- Pág. 02
27/05/2024
Londrina - PR
Manifestações
climáticas extremas: Impactos da modernidade capitalista na biodiversidade planetária*
As mudanças climáticas têm sido
objeto de crescente preocupação global, e hoje não há como negar que estamos no
centro dessas mudanças, devido às suas consequências devastadoras pelo mundo
afora. Neste contexto, este ensaio se
propõe a analisar as manifestações previstas das reações climáticas, sobretudo
no contexto da influência da modernidade capitalista sobre a biodiversidade
planetária.
Ao longo de milhões de anos, as
águas, os rios, as chuvas, os mares e oceanos, o Ártico e a Antártica, os
ventos, as árvores, os animais, o frio e o calor coexistiram em um equilíbrio
relativo na biosfera. Contudo, a ascensão da espécie humana marcou uma
transição significativa nessa dinâmica. Inicialmente, a convivência era
harmoniosa e respeitosa com os sistemas naturais. Houve muitos estragos, não há
como negar, porém, como existia baixa população e, poucos recursos materiais e
tecnológicos os impactos eram, de uma forma ou de outra, assimilados pela
natureza, possibilitanto sua recomposição a cada investida humana.
Entretanto, a modernidade
capitalista, assim com definimos nosso tempo, impulsionou uma transformação
acelerada, caracterizada pela intensificação da exploração, industrialização,
poluição, contaminação, desmatamento e urbanização desenfreada. Aumenta a
oferta de produtos ao mercado e estimulando o consumo. Assim cada vez mais
estimulando o desejo de consumir novos produtos que impactam desde sua origem
ao consumo final. Este período, mais do
que uma simples Era do Antropoceno, é agora identificada como o a Era de "capitaloceno",
evidenciando a hegemonia dos valores de expansão, consumo, poder, lucro e acumulação em detrimento da
preservação do patrimônio natural
existente em toda a superfície planetária, dos oceanos, rios, terras, flora e
fauna.
Sabe-se com segurança científica,
que a redução das emissões de gases de efeito estufa é a principal medida para
frear a crise climática do momento e dos próximos anos.
O que esta acontecendo no RS neste
mês de maio de 2024, é o resultado deste conjunto de extremos que estão
ocorrendo. Elevação e aquecimento de água dos mares, desmatamento, flexibilização
das leis ambientais, falta de planejamento e investimento preventivo para
conter, frear as mudanças climáticas.
Os impactos desse paradigma
capitalista e moderno, hoje manifesto em seu mais alto teor, são visíveis em
todo o mundo, manifestando-se em eventos climáticos extremos que afetam
diretamente e indiretamente a humanidade. Os estudos do IPCC (Painel
Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU), com suas análises e
relatórios. As COPs, Conferências do Clima, centenas e milhares de estudos e
relatórios de centros de pesquisa, de universidades tem demonstrado que tais
eventos são resultado direto da ação humana orientada pela lógica capitalista,
a qual se intensifica na emissão de gases causadores do efeito estufa, e de sua
lógica de expansão. Tudo visando intensificar a produção e os ganhos econômicos
sem considerar as conseqüências ambientais.
Diante desse cenário, urge pensar e
criar um novo paradigma de produção e de vida que priorize a sustentabilidade e
o respeito a todas as formas de vida que convivem na biodiversidade planetária,
pois elas formam uma grande Teia da Vida (Capra, F.) que de sua forma se
organiza e se articula com a vida dos humanos. Isso requer uma mudança profunda
nos padrões de produção, consumo e governança, bem como uma abordagem holística
que integre saberes éticos e responsáveis de nossa heterogeneidade cultural.
A promoção de uma cultura
sustentável, no qual vemos como uma das únicas prioridades de nossos desafios
que temos nos próximos anos, implica não apenas na adoção de práticas
ambientalmente conscientes, mas também na valorização da vida, fora da vida
humana, em suas dimensões micro e macro, reconhecendo a interdependência entre
todos os seres vivos e os sistemas naturais que sustentam a vida neste planeta,
assim sendo a Casa Comum de todos.
Nessa Era Sustentável não será a competição, o individualismo, a
ganância e o descaso que irão comandar nossas atitudes, nossos comportamentos e
sim, a cooperação, o coletivo, a partilha, e a preocupação com as causas
comuns. Assim configurar-se-á um novo modo de viver e conviver de forma
empática, ética e responsável.
Em suma, a transição para uma
sociedade sustentável exige um compromisso coletivo com a mudança, inovando e
respeitando os limites planetários, e sua capacidade regeneradora diante da
presença humana, visando garantir um futuro habitável, saudável para as
gerações presentes e futuras. Pois, segundo informações e análises da NASA, em
relação às possibilidades de existir um planeta conhecido que possa abarcar a
vida humana, ainda esta no plano da ficção. Por isso que só há por mais alguns
séculos apenas este planeta que chamamos de Terra, para estabelecer o percurso
de nossas vidas.
*Paulo
Bassani é Cientista Social e Ambiental
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