Cosmovisão e compreensão da realidade*
Pretendo ao longo deste pequeno
ensaio discutir a relação entre teoria e realidade, explorando a perspectiva
grega que associa teoria à capacidade de ver e compreender com profundidade. A
visão de mundo, como um recorte da realidade, é destacada como uma construção
pessoal que transcende a mera observação do que é enfatizado normalmente, para
tanto destacamos a importância de ir além do que é visível e alcançável. A
complexidade inerente à realidade requer
uma abordagem teórica profunda, evitando reducionismos e considerando elementos
históricos para compreender a totalidade de um fenômeno. A motivação deste
texto está associada à fala na CPI do MST, professor da UNB, pesquisador José
Geraldo de Souza Junior ao qual responder a deputada Caroline De Toni: “Não
tenho como discutir visão de mundo”. No texto que se segue tentarei fazer
alguns apontamentos.
A teoria, conforme a história da
filosofia da ciência é apresentada como a capacidade de ver e entender
profundamente. Desta forma a relação entre teoria e a construção da visão de
mundo, ganha destaque a complexidade da realidade e a necessidade de uma
abordagem teórica aprofundada para compreendê-la em sua totalidade, em suas
amplas dimensões.
A visão de mundo é discutida como
um recorte pessoal da realidade, enfatizando que não se trata do que o mundo é,
mas do que é recortada para criar uma cosmovisão, uma leitura. Isso destaca a
subjetividade pessoal inerente à construção da visão de mundo, de como o mundo
é de fato.
A realidade é caracterizada como
intrinsecamente complexa, de difícil entendimento. A compreensão profunda exige a superação de
meros recortes de interesse pessoal, ou ideológicos e a análise do que ela é,
não apenas do que se consegue alcançar. A historialização é apresentada como um
processo essencial, fundamental para entender o antes, durante e depois de um
fenômeno na realidade, pois ela é e sempre será movimento, pois difícil é fixar
uma realidade de forma estática. Pois
como dizia Candido Grzybowski “nossa sina é fixar algo que se move”. A
historialização é a compreensão temporal de fenômenos, enquanto a análise de
movimento é apresentada como mais do que uma simples captura estática, mas sim
uma compreensão da historiabilidade de fatores que influenciam comportamentos,
e os movimentos da mesma.
Reconhece-se que há movimento em
todos os fenômenos, e a capacidade de captar esse movimento vai além de uma
análise estática. Destaca-se a necessidade de historialização para compreender
as diversas dimensões de um fenômeno, considerando fatores objetivos e
subjetivos, visíveis e invisíveis.
Enfatiza-se que, mesmo em análises
de realidades aparentemente simples, a complexidade persiste. Elementos não
decifráveis num primeiro momento não significam de menor importância. Por isso uma observação e reflexão atenta
dispõem para busca de sentido em cena, ou seja, uma abordagem analítica que
ultrapasse a visão superficial. Destaca-se a importância de compreender não
apenas o que é visível, mas a essência fundante da realidade.
Argumenta-se que a discussão da
cosmovisão de mundo requer a apreensão da realidade em sua complexidade, sem
isso não há debate e nem conversações profundas, apenas opiniões de uma mesa de
bar. A compreensão de que tudo está em constante transformação e movimento é
essencial para uma análise profunda.
Podemos, desta forma, considerar
que a construção da cosmovisão de mundo é intrinsecamente ligada à apreensão da
realidade em toda a sua complexidade. A análise profunda requer tempo,
paciência e disciplina para abranger todas as instâncias possíveis, permitindo
decifrar com maior precisão as tendências comportamentais de uma realidade em
constante evolução e suas transformações. Reconhecendo a constante
transformação da realidade, é fundamental para trabalhar nesse desvelamento
analítico que capture todas as instâncias possíveis para com maior precisão
apontar as tendências que estão em cena.
*Paulo
Bassani é cientista social
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