Publicado em 19/02/2024
Santo Antônio da Platina- PR
https://www.portaltanosite.com/noticia/121541/a-logica-do-tecnocentrismo-da-modernidade
Paulo Bassani
A lógica do
tecnocentrismo da modernidade*
O tecido da modernidade, enredado
pelo domínio do capital por aproximadamente trezentos anos, revela-se por meio
de uma perspectiva cartesiana, influenciada pela visão fragmentada de Descartes
e a promessa de Francis Bacon de que a ciência conferirá aos seres humanos o
controle e a posse da natureza. Alicerçada na ideia de ordem e progresso
sustentado pela estabilidade do mundo, essa concepção sustenta a crença de que
o futuro replicará o passado, segundo a mecânica newtoniana. Assim, um mundo
concebido sob essa lógica é considerado estático e permanente, flutuando nos
ares da modernidade, onde as operações seguem as leis físicas e matemáticas,
transformando-se na matéria-prima de uma engrenagem mecânica.
A racionalidade moderna,
instrumental e pragmática, solidifica-se na molduração do homem moderno,
legitimando um mundo-máquina no qual as peças devem se encaixar perfeitamente
para garantir o funcionamento adequado. Nesse contexto, a era moderna se
desenvolve desvinculada das limitações e finitude da natureza, submetendo os
seres humanos a determinações externas, enquadrados nessa mecânica utilitária e
funcional.
Toda a base científica proveniente
dessa fase civilizatória carrega pressupostos epistemológicos e hermenêuticos
orientados pela busca de regularidades observadas no mercado e na sociedade.
Essa busca tem o propósito de estabelecer previsibilidade nos comportamentos
futuros, assegurando que eles possam ser observados e medidos com rigor para
que o controle dos fatos e fenômenos que regem o mundo moderno não seja
perdido. Tal abordagem reflete o funcionamento das leis naturais da física,
química e matemática, sendo uma exemplificação da ciência moderna.
Contudo, essa visão de mundo,
herdada para compreender a alta modernidade que se esgota, enfrenta desafios
diante do tecnocentrismo que há comanda nos dias atuais. Não podemos negar que,
neste início do século XXI, estamos cada vez mais imersos em um mundo
tecnológico que nos controla, ativa e vigia. O entorpecimento causado pelos
artefatos tecnológicos, presentes em nossas vidas diárias, nos impede de
perceber a extensão do problema com a profundidade necessária. Reconhecer nossa
capacidade de compreender o mundo torna-se uma tarefa cada vez mais
desafiadora.
A falta de espaço crítico para
questionar o domínio dos artefatos modernos contribui para a dificuldade em
reconhecer a magnitude do problema. A agilidade, rapidez e eficiência desses
dispositivos estabelecem uma barreira cognitiva, bloqueando nosso horizonte de
compreensão e limitando a capacidade de estabelecer um conhecimento aprofundado
sobre os eventos e situações criados por eles. A cognição, expressa no senso
comum, não consegue romper essa barreira para restaurar processos guiados pela
singularidade humana, caracterizada por nossa condição de seres pensantes,
inteligentes, imaginativos e criativos.
Diante desses desafios, enfrentamos obstáculos para romper com um modelo civilizatório que nos aprisionou em um mundo tecnologizado, controlado por poucos e submetido a um mercado que, além de excluir e ser socialmente injusto, é predatório e impactante para a natureza.
Diante disso o questionamento crítico e a busca por alternativas tornam-se essenciais para a
construção de um novo paradigma que respeite a complexidade e racionalidade da natureza e a
singularidade essencial da condição humana.
*Paulo
Bassani é cientista social .
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