TESTE POP

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Série

Poemas Contemporâneos

 



 Formas e descobertas*

 

A vida gera emoções

As emoções geram memórias

As memórias geram leituras

As leituras geram inteligência

A inteligência gera consciência

A consciência gera imaginação

A imaginação gera criatividade

A criatividade gera conhecimentos

Os conhecimentos geram saberes

Os saberes geram aprendizagens

As aprendizagens geram práticas

As praticas geram os hábitos

Os hábitos geram experiências de vida

As experiências de vida geram um tipo de mundo

Com práticas equilibradas, dialógicas, sustentáveis

Um mundo de convivência saudáveis

Como justiça social, preservação ambiental,

Solidariedade, empatia, outricidade

Um mundo que sonhamos

Um mundo que queremos viver.

*Paulo Bassani 








sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

 Série 

Pensar e Reconhecer

XI



A construção epistemológica da transformação*

 Este texto buscar abordar cientificamente essa metáfora, desvelando seus elementos conceituais e suas implicações no contexto da construção do novo. O presente enunciado evoca uma metáfora poética para expressar a ideia de que a transformação ocorre por meio da sobreposição e acumulação de elementos fundamentais numa construção objetiva e subjetiva, tais como tijolos, pedras, pensamentos, sonhos e utopias.

A referência a "tijolo sobre tijolo" denota a construção gradual e estruturada, implicando na necessidade de um alicerce sólido para suportar as futuras camadas de inovação. Nesse sentido, é possível interpretar tal analogia como representativa da acumulação de conhecimento e experiência ao longo do tempo, fundamentando a evolução, as passagens, as mutações e descobertas constantes.

A sobreposição de "pedra sobre pedra" sugere a formação de uma base robusta, reforçando a estabilidade e durabilidade do edifício. Em termos epistemológicos, essa sobreposição pode ser interpretada como a integração de teorias, conceitos e paradigmas, consolidando uma estrutura cognitiva sólida para o desenvolvimento do pensamento.

A alusão a "pensamento sobre pensamento" destaca a importância da reflexão contínua e da revisão crítica de ideias preexistentes. Essa sobreposição de pensamentos representa a necessidade de uma constante reavaliação do conhecimento, visando o aprimoramento conceitual necessários.

Ao mencionar "sonho sobre sonhos", sugere-se a incorporação progressiva de aspirações e visões futuras. Essa sobreposição de sonhos pode ser interpretada como  algo que sempre destacamos em nossa condição humana, estimulando a imaginação e a criatividade..

A referência a "utopias sobre utopias" destaca a importância da imaginação e da idealização na construção do novo. A sobreposição de utopias implica na concepção de futuros alternativos e na busca incessante por modelos ideais de sociedade que temos a forte convicção que a encontraremos no futuro.

Este pensar sugere que é por meio dessas sobreposições que "o novo irá se configurando". Isso implica que essa construção não é um evento isolado, mas sim um processo contínuo, interativo, dialógico e conflitual no qual cada camada sobreposta contribui para a evolução e redefinição do cenário futuro.

Em síntese, o que propomos nessa abordagem é estabelecer os primeiros passos na construção do novo. Sob uma perspectiva crítica, esta metáfora pode ser interpretada como uma representação simbólica da complexidade e interconexão dos elementos que compõem o processo de transformação do conhecimento e da sociedade.

*Paulo Bassani é cientista social

 

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

 

Folha de Londrina 
Espaço Aberto - Pág. 02
Publicado em 19/02/2024
Londrina/Pr/ Brasil
https://www.folhadelondrina.com.br/opiniao/cosmovisao-e-compreensao-da-realidade-3246697e.html?d=1


Cosmovisão e compreensão da realidade*

 

Pretendo ao longo deste pequeno ensaio discutir a relação entre teoria e realidade, explorando a perspectiva grega que associa teoria à capacidade de ver e compreender com profundidade. A visão de mundo, como um recorte da realidade, é destacada como uma construção pessoal que transcende a mera observação do que é enfatizado normalmente, para tanto destacamos a importância de ir além do que é visível e alcançável. A complexidade inerente à realidade requer uma abordagem teórica profunda, evitando reducionismos e considerando elementos históricos para compreender a totalidade de um fenômeno. A motivação deste texto está associada à fala na CPI do MST, professor da UNB, pesquisador José Geraldo de Souza Junior ao qual responder a deputada Caroline De Toni: “Não tenho como discutir visão de mundo”. No texto que se segue tentarei fazer alguns apontamentos.

A teoria, conforme a história da filosofia da ciência é apresentada como a capacidade de ver e entender profundamente. Desta forma a relação entre teoria e a construção da visão de mundo, ganha destaque a complexidade da realidade e a necessidade de uma abordagem teórica aprofundada para compreendê-la em sua totalidade, em suas amplas dimensões.

A visão de mundo é discutida como um recorte pessoal da realidade, enfatizando que não se trata do que o mundo é, mas do que é recortada para criar uma cosmovisão, uma leitura. Isso destaca a subjetividade pessoal inerente à construção da visão de mundo, de como o mundo é de fato.

A realidade é caracterizada como intrinsecamente complexa, de difícil entendimento.  A compreensão profunda exige a superação de meros recortes de interesse pessoal, ou ideológicos e a análise do que ela é, não apenas do que se consegue alcançar. A historialização é apresentada como um processo essencial, fundamental para entender o antes, durante e depois de um fenômeno na realidade, pois ela é e sempre será movimento, pois difícil é fixar uma realidade de forma estática.  Pois como dizia Candido Grzybowski “nossa sina é fixar algo que se move”. A historialização é a compreensão temporal de fenômenos, enquanto a análise de movimento é apresentada como mais do que uma simples captura estática, mas sim uma compreensão da historiabilidade de fatores que influenciam comportamentos, e os movimentos da mesma.

Reconhece-se que há movimento em todos os fenômenos, e a capacidade de captar esse movimento vai além de uma análise estática. Destaca-se a necessidade de historialização para compreender as diversas dimensões de um fenômeno, considerando fatores objetivos e subjetivos, visíveis e invisíveis.

Enfatiza-se que, mesmo em análises de realidades aparentemente simples, a complexidade persiste. Elementos não decifráveis num primeiro momento não significam de menor importância.  Por isso uma observação e reflexão atenta dispõem para busca de sentido em cena, ou seja, uma abordagem analítica que ultrapasse a visão superficial. Destaca-se a importância de compreender não apenas o que é visível, mas a essência fundante da realidade.

Argumenta-se que a discussão da cosmovisão de mundo requer a apreensão da realidade em sua complexidade, sem isso não há debate e nem conversações profundas, apenas opiniões de uma mesa de bar. A compreensão de que tudo está em constante transformação e movimento é essencial para uma análise profunda.

Podemos, desta forma, considerar que a construção da cosmovisão de mundo é intrinsecamente ligada à apreensão da realidade em toda a sua complexidade. A análise profunda requer tempo, paciência e disciplina para abranger todas as instâncias possíveis, permitindo decifrar com maior precisão as tendências comportamentais de uma realidade em constante evolução e suas transformações. Reconhecendo a constante transformação da realidade, é fundamental para trabalhar nesse desvelamento analítico que capture todas as instâncias possíveis para com maior precisão apontar as tendências que estão em cena.

*Paulo Bassani é cientista social


                                                                       


                                Publicado em 19/02/2024

Santo Antônio da Platina- PR

https://www.portaltanosite.com/noticia/121541/a-logica-do-tecnocentrismo-da-modernidade

                                          Paulo Bassani


        A lógica do tecnocentrismo da modernidade*

 

O tecido da modernidade, enredado pelo domínio do capital por aproximadamente trezentos anos, revela-se por meio de uma perspectiva cartesiana, influenciada pela visão fragmentada de Descartes e a promessa de Francis Bacon de que a ciência conferirá aos seres humanos o controle e a posse da natureza. Alicerçada na ideia de ordem e progresso sustentado pela estabilidade do mundo, essa concepção sustenta a crença de que o futuro replicará o passado, segundo a mecânica newtoniana. Assim, um mundo concebido sob essa lógica é considerado estático e permanente, flutuando nos ares da modernidade, onde as operações seguem as leis físicas e matemáticas, transformando-se na matéria-prima de uma engrenagem mecânica.

A racionalidade moderna, instrumental e pragmática, solidifica-se na molduração do homem moderno, legitimando um mundo-máquina no qual as peças devem se encaixar perfeitamente para garantir o funcionamento adequado. Nesse contexto, a era moderna se desenvolve desvinculada das limitações e finitude da natureza, submetendo os seres humanos a determinações externas, enquadrados nessa mecânica utilitária e funcional.

Toda a base científica proveniente dessa fase civilizatória carrega pressupostos epistemológicos e hermenêuticos orientados pela busca de regularidades observadas no mercado e na sociedade. Essa busca tem o propósito de estabelecer previsibilidade nos comportamentos futuros, assegurando que eles possam ser observados e medidos com rigor para que o controle dos fatos e fenômenos que regem o mundo moderno não seja perdido. Tal abordagem reflete o funcionamento das leis naturais da física, química e matemática, sendo uma exemplificação da ciência moderna.

Contudo, essa visão de mundo, herdada para compreender a alta modernidade que se esgota, enfrenta desafios diante do tecnocentrismo que há comanda nos dias atuais. Não podemos negar que, neste início do século XXI, estamos cada vez mais imersos em um mundo tecnológico que nos controla, ativa e vigia. O entorpecimento causado pelos artefatos tecnológicos, presentes em nossas vidas diárias, nos impede de perceber a extensão do problema com a profundidade necessária. Reconhecer nossa capacidade de compreender o mundo torna-se uma tarefa cada vez mais desafiadora.

A falta de espaço crítico para questionar o domínio dos artefatos modernos contribui para a dificuldade em reconhecer a magnitude do problema. A agilidade, rapidez e eficiência desses dispositivos estabelecem uma barreira cognitiva, bloqueando nosso horizonte de compreensão e limitando a capacidade de estabelecer um conhecimento aprofundado sobre os eventos e situações criados por eles. A cognição, expressa no senso comum, não consegue romper essa barreira para restaurar processos guiados pela singularidade humana, caracterizada por nossa condição de seres pensantes, inteligentes, imaginativos e criativos.

Diante desses desafios, enfrentamos obstáculos para romper com um modelo civilizatório que nos aprisionou em um mundo tecnologizado, controlado por poucos e submetido a um mercado que, além de excluir e ser socialmente injusto, é predatório e impactante para a natureza. 

Diante disso o questionamento crítico e a busca por alternativas tornam-se essenciais para a construção de um novo paradigma que respeite a complexidade  e racionalidade da natureza e a singularidade essencial da condição humana.

 

*Paulo Bassani é cientista social .

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

 Série 

Poemas Contemporâneos



Bicicleta de criança*

 

Aquela bicicleta da meninice

Que deveras era um triciclo

Como marcou minha infância

Quando não estava estudando

Ou brincando com barro, madeira

Jogando futebol ou bolinhas de gude.

O triciclo era a opção.

Um triciclo que era de meu irmão

Depois passou para mim

E às vezes minha irmã também brincava

Quantas pedaladas!

Inúmeras vezes rompia o pedal

Às vezes esquerdo, às vezes direito

Pois forçava nas subidas

Meu pai dizia vá consertar

Lá ia eu no Odorico para consertar

Pedalava e novamente quebrava

Lá novamente no Odorico.

E as pinturas eram tantas

Vermelho, azul, preta e tantas outras

De tintas que sobravam de pinturas da casa

Já existia uma crosta

Sobre o metal de difícil identificação das camadas

Ah! Meu brinquedo de infância.

Quantas aventuras, emoções, travessuras

Riso, sorrisos e choros quando caia

E ralava o joelho pelas calçadas

Pelas ruas, pela praça.

Numa ultima fase de sua existência

Minha irmã Ritinha

Pode dar suas pedaladas

Quantas foram não sei

Mas tantas, que até dizia ir a Veranópolis.

Com ela, com pedaladas fortes,

Tudo era encanto.

Saudades de Ritinha, da bicicleta!

Da infância que se foi

Como suas pedaladas

Com os concertos e as pinturas.

A quilometragem foi do tamanho

Das alegrias que ela proporcionou.

Velho, simples triciclo

Mas repleto de histórias,

Passagens de uma vida

De uma infância inigualável.


 *Paulo Bassani

 

  





sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

 Série

Pensar e Reconhecer 

X



Construindo uma proposta de colaboração, horizontalidade e diálogo*

 

A afirmação propõe uma reconfiguração da abordagem tradicional da vida, buscando uma lógica que transcenda a competição, adotando a colaboração, horizontalidade e o diálogo como princípios fundamentais. Para uma análise científica, podemos explorar conceitos de psicologia social, teorias organizacionais e dinâmicas socioculturais que sustentam e desafiam os paradigmas tradicionais.

A psicologia social pode abordar a questão da competição e colaboração nas interações humanas. Pesquisas sobre a teoria do conflito social e teorias de cooperação podem oferecer ensaios sobre como as dinâmicas sociais podem ser moldadas por essas abordagens opostas. Estudos sobre a empatia e comportamentos sociais podem ser relevantes ao explorar a transição de uma lógica competitiva para uma mais colaborativa.

Teorias organizacionais, como a teoria da liderança transformacional, defendem a importância da colaboração e horizontalidade. Essas teorias destacam a eficácia de lideranças que incentivam a cooperação em oposição a modelos autoritários e hierárquicos.

A análise das mudanças nas dinâmicas socioculturais ao longo do tempo pode ilustrar a evolução de paradigmas de competição para colaboração. Estudos antropológicos e sociológicos podem examinar sociedades que adotam modelos mais cooperativos e seus impactos no bem-estar coletivo.

A proposta de uma lógica de vida alternativa ressoa com ideias que desafiam estruturas tradicionais de poder e autoridade. Filósofos como John Rawls e sua teoria da justiça como equidade podem ser invocados para sustentar uma lógica mais horizontal e igualitária. A ideia de criar estruturas sociais que beneficiem a todos, independentemente de suas posições na hierarquia, é fundamental nesse contexto.

  A filosofia do diálogo, inspirada em pensadores como Martin Buber e Mikhail Bakhtin, destaca a importância da comunicação horizontal e da compreensão mútua. A promoção do diálogo sobre a imposição autoritária é uma característica central dessa abordagem.

Ao integrar as perspectivas científicas e filosóficas, surge uma compreensão mais holística da proposta. A colaboração é explorada não apenas como um princípio organizacional eficaz, mas como uma expressão de justiça social e uma evolução na forma como os indivíduos se relacionam entre si.

   A horizontalidade, por sua vez, é percebida não apenas como uma estrutura organizacional, mas como um princípio filosófico que desafia a concentração de poder em prol de uma distribuição mais equitativa.

  O diálogo, como elemento central, destaca-se não apenas como uma ferramenta de comunicação eficaz, mas como um veículo para a compreensão mútua, a construção coletiva de significado e a superação de dicotomias tradicionais.

  O que apresentamos nesse enunciado trata de uma  proposta com lógica de vida alternativa, sustentada por princípios de colaboração, horizontalidade e diálogo, apresenta um convite para repensar não apenas as estruturas organizacionais, mas também as bases filosóficas e éticas que orientam as interações humanas até o presente e como poderiam se desenvolver no amanhã.

*Paulo Bassani é cientista social

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

Série 

Pensar e Reconhecer 

IX



A necessidade do pensamento reflexivo e profundo*


O enunciado em questão propõe uma reflexão científico-filosófica acerca da negação das potencialidades humanas em face de influências externas, sejam elas perceptíveis ou imperceptíveis. Argumenta-se que a abordagem reflexiva e profunda do pensamento é imperativa para lidar com essa situação. Nesta análise, buscou-se explorar os fundamentos científicos subjacentes a essa assertiva.

A alusão à "negação das possibilidades humanas" sugere um obstáculo à realização plena das capacidades inerentes à natureza humana. Tal negação é atribuída aos "condicionantes externos", indicando a presença de fatores provenientes do ambiente que restringem ou limitam o alcance das potencialidades individuais e coletivas.

A menção aos condicionantes externos agindo "de forma visível e invisível" sublinha a complexidade e diversidade desses elementos. Condicionantes visíveis podem incluir influências sociais, econômicas ou políticas, enquanto os invisíveis podem referir-se a fatores psicológicos, culturais ou ambientais. A dualidade destes condicionantes realça a abrangência e a sutileza das forças que moldam as possibilidades humanas.

A proposta de ocupar o espaço da negação das possibilidades humanas com um "pensamento reflexivo, profundo" sugere a necessidade de uma abordagem cognitiva mais complexa e analítica. A cognição de meu entendimento é fundamental para a elaboração de minha narrativa dos fatos e dos fenômenos analisados. O pensamento reflexivo implica em uma avaliação crítica das circunstâncias, enquanto o pensamento profundo demanda uma análise mais aprofundada, buscando compreender as raízes e implicações dos condicionantes externos.

Do ponto de vista a que nos referimos, essa afirmação poderia ser enquadrada na psicologia, sociologia e neurociência, explorando os mecanismos cognitivos e sociais que influenciam a percepção das possibilidades e as respostas individuais frente a condicionantes externos. Além disso, a filosofia e a epistemologia podem ser evocadas para analisar a natureza do pensamento reflexivo e profundo, destacando sua relevância na construção do conhecimento e na superação de limitações percebidas.

Em resumo, a abordagem crítica do enunciado permite uma análise discursiva das condições que negam as possibilidades humanas, destacando a importância do pensamento reflexivo e profundo como ferramentas essenciais para enfrentar e superar esses condicionantes externos. Este entendimento não apenas contribui para uma compreensão mais profunda da dinâmica entre o indivíduo e seu entorno, mas também aponta para possíveis intervenções e estratégias que promovam o desenvolvimento humano diante de desafios complexos desta alta modernidade que vivemos.

*Paulo Bassani é cientista social

 


terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

Série 

Pensar e Reconhecer

VIII


 


Acolhimento e diálogos de saberes*


O enunciado ressoa com uma perspectiva filosófica que propõe uma mudança paradigmática na abordagem contemporânea. A convocação para dar lugar ao acolhimento, à colaboração, à solidariedade e aos diálogos de saberes sugere uma reflexão profunda sobre as bases éticas e epistemológicas que fundamentam a interação humana necessária no presente.

O apelo ao "acolhimento" transcende a mera hospitalidade física. Ética e filosoficamente, pode ser interpretado como um convite para adotar uma postura de aceitação e compreensão em face da diversidade humana. Nesse contexto, o acolhimento se torna um imperativo moral, onde a alteridade, empatia, outricidade é reconhecida e respeitada como parte intrínseca da experiência coletiva.

A chamada à "colaboração" implica na valorização das relações interpessoais e na crença de que a cooperação é essencial para o progresso humano. Do ponto de vista filosófico, isso pode ecoar ideias sobre a interconexão de todos os seres humanos, destacando a importância de ações conjuntas na busca de objetivos comuns.

A ênfase na "solidariedade" aponta para um compromisso moral com o bem-estar coletivo. Na filosofia ética, a solidariedade pode ser associada à justiça social, à distribuição equitativa de recursos e à consciência de responsabilidade compartilhada na construção de uma sociedade mais justa e equânime.

A convocação para os "diálogos de saberes" reflete uma apreciação pela pluralidade de perspectivas e conhecimentos e experiências de vida. Isso ressoa com a epistemologia pluralista, que reconhece a validade de diferentes formas de conhecimento e experiências e incentiva a busca pela verdade através do diálogo interdisciplinar e intercultural.

Em última análise, sugere-se uma filosofia do hoje centrada na promoção de valores fundamentais para a convivência humana. Através do acolhimento, da colaboração, da solidariedade e dos diálogos de saberes, propõe-se uma visão ética e epistemológica que transcende as fronteiras individuais, fomentando uma sociedade mais compassiva, cooperativa e de alto teor democrático, enriquecida pela diversidade de conhecimentos e experiências.

*Paulo Bassani é cientista social

 


segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

Série

Pensar e Reconhecer 

VII



Uma filosofia da travessia*


O enunciado convida a uma reflexão filosófica sobre a natureza da jornada humana, sugerindo que ao longo do caminho, deparamo-nos com desertos e outros desafios. A preparação para enfrentar essas adversidades é caracterizada pela necessidade de empregar energia e serenidade, proporcionando uma perspectiva filosófica que se aprofunda na natureza da superação, aceitação e equilíbrio na experiência humana.

A imagem dos "desertos pelo caminho" simboliza momentos de aridez, solidão ou dificuldades inesperadas na jornada da vida. Desta forma, pode ser entendida como uma metáfora para os períodos de desafio existencial que todos os seres humanos enfrentam. Tais desertos representam não apenas adversidades tangíveis, mas também crises de significado, perdas e outros obstáculos intrínsecos à existência.

A exortação a "preparar-se para cruzar esse deserto e outros desafios" destaca a importância da prontidão e da resiliência. Essa preparação pode ser associada às tradições estoicas, que enfatizam a capacidade de cultivar a força interior para lidar com as vicissitudes da vida. Também ressoa com a filosofia existencialista, que propõe a aceitação da responsabilidade pessoal e a criação de significado em face da contingência a que estamos submetidos..

A convocação para enfrentar esses desafios "com energia" sugere uma atitude ativa e comprometida na abordagem dos obstáculos. Isso pode ser conectado à ética da ação, onde a energia é direcionada para a transformação construtiva das circunstâncias. Na tradição aristotélica, por exemplo, a busca pela eudaimonia, ou florescimento humano, envolve a realização ativa das potencialidades individuais.

A menção à necessidade de enfrentar os desafios "com serenidade" destaca a importância da tranquilidade interior e da paz de espírito. Isso ecoa com princípios do estoicismo, que enfatiza a serenidade como um estado interior independente das circunstâncias externas. A tradição oriental, budista também valoriza a serenidade como parte da sabedoria que emerge da compreensão da impermanência e da interconexão de todas as coisas.

Em suma, o enunciado instiga uma abordagem filosófica da vida, na qual a travessia dos desertos e desafios é vista como uma oportunidade para o desenvolvimento pessoal e espiritual. A combinação de energia ativa e serenidade reflexiva é proposta como uma maneira de não apenas sobreviver, mas também prosperar diante das adversidades, construindo uma compreensão mais profunda da existência.

*Paulo Bassani é cientista social

 

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

Série 
Pensar e Reconhecer

VI

 

Cultivando utopias, sonhos e poesia*


No tecido da existência, erguemo-nos como artífices de utopias, tecelões de sonhos e poetas do efêmero. Nossa jornada, mortal, além da mera sobrevivência, desvela-se como uma epopéia de criação, um esforço para gerar não apenas realidades tangíveis, mas o intangível e sublime que permeia a essência da vida, a essência de quem somos.

Na encruzilhada civilizatória entre o pensamento e a aspiração, lançamos sementes de utopias. São visões que transcendem o presente, ideais que desafiam as limitações impostas pela realidade. A utopia é uma centelha que incendeia a mente, inspirando-nos a pensar o impensável, com afirma Leff, a forjar caminhos além dos conhecidos, esculpindo futuros que desafiam a rigidez e a cegueira do presente.

Nas profundezas do ser e da alma, desdobramos sonhos,  horizontes. Os sonhos são mais do que simples devaneios noturnos, são manifestações de desejos, esperanças e anseios que ecoam na vastidão do inconsciente, sem nossa rígida moral. Cada sonho é uma narrativa em potencial, um convite à exploração do desconhecido.

A poesia, entrelaçada a linguagem, revela-se como as expressões mais íntimas podem produzir, porque nasce livre como produto deste exercício de liberdade. Na linguagem poética, as palavras transcendem sua função meramente comunicativa para dançar, cantar, gerar beleza e emoção. Cada verso, linha traçada é a alma que ecoa, um eco do inefável, encantador, que busca pelo entendimento.

No ato sublime de gerar vida, tornamo-nos co-criadores da existência. A vida desvela-se como uma exploração das nuances do existir, uma busca por significado e propósito que se desdobra nas concepções da experiência humana. Cada vida é uma nota única, uma singularidade onde tudo emana e se relaciona, com tudo e com todos de forma holística.

Como guardiões da existência, devemos nutrir a vida como um rito sagrado. Na ética, que buscamos encontrar e seguir compreendemos que o ato de alimentar-nos constantemente com o que de melhor cultivamos e o que de melhor há de vir. Trata-se de um compromisso de cultivar um solo fértil para o florescimento da consciência, um vínculo com o todo que transcende as fronteiras individuais.

Assim, nesta relação próxima entre a filosofia e a poesia, entre a reflexão e a criação, geramos não apenas o palpável, mas o efêmero que eleva a existência a um plano transcendental. Somos artífices de um universo de possibilidades, onde utopias, sonhos, poesia e vida entrelaçam-se em uma rede de significado, revelando que, em cada ato de criação, estamos não apenas moldando o mundo, mas co-criando o universo interior e exterior que chamamos de vida.

*Paulo Bassani é cientista social

 


  RECORDAÇÕES                                Ai bem no cantinho meu pai José Egydio                  e eu pés descalços calça longa Sob a po...