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quinta-feira, 19 de junho de 2025

 Ensaio

                                                  Santo Antônio da Platina, Paraná

18/06/2025

                                                        Paulo Bassani



Um paradigma necessário de vida compartilhada*

 

Diante da escala militar, das mortes de crianças, mulheres, idosos inocentes, de fome e destruição com muitas bombas e diante uma guerra destruidora iminente. Lembro que neste solo da palestina onde nasceu, viveu, e com seu exemplo e mensagem Jesus Cristo que deixou uma lição de amor e paz.  Venho, para tanto, neste ensaio, lembrar uma das principais orações do cristianismo o “Pai Nosso”. Na oração do Pai Nosso eixo central da mensagem cristã, há uma frase que sempre me intrigou e hoje torna-se mais pertinente “...Venha a nós o vosso Reino, seja feita a vossa vontade assim na Terra como no céu.”  Desta forma imagino: Como seria esse reino divino na Terra? Como se estruturaria esse paradigma cristão de um modo de viver? É o que tento levantar nas linhas abaixo, apenas como uma introdução a algo tão complexo e tão polêmico. Pois o mundo que vivemos, em sua forma hegemônica, militar e excludente se coloca totalmente contrário e esses ideais.

A ideia da construção de um reino divino na Terra pode soar utópica à primeira vista. Contudo, quando desdobrada em suas dimensões éticas, espirituais, educativas e existenciais, revela-se como uma proposta transformadora, não apenas possível, mas necessária. Esse paradigma, alternativo e inédito, clama por um novo contrato civilizatório baseado na harmonia, no cuidado, no reconhecimento da diversidade e no respeito aos limites do planeta que habitamos. Algo muito destacado na encíclica “Louvado Seja” do Papa Francisco.

Neste reino, o princípio organizador da vida não é a dominação, mas o diálogo. Um diálogo constante, profundo e aberto, em que nenhuma entidade, etnia, nação, homem ou mulher se sobreponha a outra. A hierarquia que estrutura o mundo moderno, baseada no poder, na acumulação e na exclusão, cede lugar a uma teia de relações simétricas, onde todos os seres têm valor intrínseco, independente de qualquer tipo de diferença. Não se trata de nivelar as diferenças, mas de compreendê-las como expressões da beleza, da complexidade e da co-existência de vida neste planeta.

O caráter educativo e cultural desse novo modo de viver é central. Ele exige a aprendizagem de uma ética do cuidado e da convivência, onde o saber não é instrumento de controle, mas de conexão, de aprendizagens, de trocas de experiências. A educação, um direito a todos, torna-se, assim, um caminho para cultivar a escuta, a empatia e a humildade, virtudes essenciais para quem habita a Terra, nossa Casa Comum com consciência, respeito e responsabilidade.

Esse paradigma também é ecológico em sua essência. Ele reconhece que o planeta é finito e limitado, e que o modo de vida que temos construído baseado na exploração infinita do patrimônio da natureza e na ilusão do crescimento sem fim, nos levou à beira do colapso da vida  humana e dos demais seres vivos que coabitam e nos relacionamos. Em contraste, o reino divino na Terra propõe uma vida compatível com os potenciais e os limites planetários e da espécie humana. Propõe um modo de viver que valoriza o suficiente, o cuidado com o outro, o tempo da natureza, os ciclos da vida, as bondades da natureza, o ser antes do ter, numa comunhão e partilha para que não haja fome e tão pouca miséria material.

Não se trata, portanto, de um retorno ao passado, mas de um salto ao futuro, com consciência emancipada. De uma nova convivência, em que a espiritualidade se expressa não como dogma ou imposição, mas como presença, como reverência à vida em todas as suas formas, tanto no mundo material quanto no mundo sensível. Um mundo onde o equilíbrio, a equidade, a cooperação,justiça e sustentabilidade não sejam apenas palavras, mas práticas cotidianas de um modo de viver.

A construção desse reino não virá por decreto nem será obra de um partido político, de país, de um governante. Será um processo coletivo de humanização da humanidade, um processo paciente e persistente, alimentado por gestos de amor, resistência e esperança. Um caminho em que cada passo dado na direção do cuidado, da solidariedade, da cooperação e da escuta ativa nos aproxima desse horizonte comum. Este é um chamamento do nosso tempo: sonhar com o inédito, com o que ainda não existe e trabalhar por ele com humildade, consciência, colaboração de todos, diversos e unidos numa causa determinante e necessária. 

Assim nascem as utopias, assim elas se concretizam. E nesse caminhar por uma Travessia molda-se se configura um possível reino de Deus na Terra, afinal foi por este fim que seu filho foi enviado para junto de nós, para que os seres humanos pudessem compreender a dimensão divina do viver.  E  compreender que estamos imersos neste pequeno, belo, e sagrado território de um reino repleto das manifestações de sua divindade. Com os pés no chão e o coração aberto independentemente de qualquer crença religiosa, política, ideológica, poderemos avançar nessa construção civilizatória. Afinal construções sociais, econômicas, políticas e culturais que agregam os seres humanos na sua interação harmônica como teia da vida parece ser algo urgente e necessário.

Trata-se, nessa dimensão, agregar a humanidade algo que temos na profundidade de nossa condição humana como seres colaborativos de nossa espécie e com toda a teia da vida que conosco coabitam esse planeta chamado Terra.

 

*Paulo Bassani é cientista social

 


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