Artigo
Nova geração de educadores: educar para a teia da vida*
Não se trata ser
apenas um educador ambiental, trata-se de ser um educador de vida, de toda a
teia que ela compõe. Essa é a grande tarefa, o grande desafio que teremos pela
frente, educar indivíduos para viver com sua espécie e com as demais espécies
vivas, num planeta que também é vida (GAIA) e que estamos destruindo suas
condições reprodutivas e consequentemente comprometendo a vida, todo tipo de
vida que há nele, e as condições de habitabilidade.
Por isso proponho uma nova geração de educadores ambientais com uma
lente de aumento perante as questões que envolvem os seres humanos e a natureza.
Serão educadores de vida, sim, pois necessitamos educar para viver num planeta
finito, limitado, belo, porém frágil diante de nossos impactos. Algo se falou pouco
se fez, até o momento, as propostas que surgiram, no geral dizem respeito a
reformas, a aperfeiçoamentos a minimização dos impactos. Necessitamos nessa
Travessia Civilizacional ampliar nossa fala, nossas reflexões, para fortalecer
nossas ações urgentes e necessárias de caráter radical, no que diz respeito a
ir na raiz dos problemas sem fazer de conta, sem reformas ou adiamentos, sem
acobertá-los e tão pouco ignorá-los.
Assim
como dizia Peter Burker “A função do historiador é lembrar a sociedade daquilo
que ela quer esquecer”, Podemos dizer a história não é mestra da vida, ela nos
ensina, sobretudo, a não repetir da mesma forma os equívocos cometidos. A
história nos traz lições dos desvios, das barbáries cometidas ao longo dos
séculos. Isso vale considerar para todo e qualquer filósofo ou cientista ético,
decente e prudente. Conhecer para não repetir, conhecer para reconstruir novos
pensamentos e praticas decorrentes que possam agregar e, que sejam
qualitativamente superior as anteriores. Por isso necessitamos
criar e ampliar uma ciência sustentável que tenha correspondência com o novo a
ser constituído. Que descubra entre as frestas do sistema hegemônico as luzes
de um modelo que seja alternativo ao que está posto. Que seja científico e que possa ser ensinado,
apreendido e praticado por todos. Este exercício é fundamental para que as construções
sustentáveis derivadas possam ganhar força e visibilidade no cotidiano.
Diversos cientistas sugerem que a Terra está desde o pós guerra, em uma nova época geológica, denominada Antropoceno. Esse termo se refere a uma Era em que as atividades humanas se geraram a principal força de transformação do planeta, superando até mesmo as forças naturais que moldaram a Terra ao longo desses 4,7 bilhões de anos de sua formação. As características físicas do nosso planeta, como a composição da atmosfera, a biodiversidade, os ciclos biogeoquímicos e até mesmo a geologia, estão passando por mudanças significativas, muitas delas com tendências degenerativas, em grande medida impulsionadas pelo impacto acumulativo das ações humanas.
Essas alterações incluem as mudanças climáticas com extremos de sua manifestação, o aquecimento global, a acidificação dos oceanos, o desaparecimento acelerado de espécies e a alteração dos padrões de regulamentação, entre outras. No entanto, o conceito de Antropoceno não é unânimidade científica. Alguns pesquisadores, dos quais nos incluímos, propõem que o termo “Capitaloceno” seja mais adequado, argumentando que é o sistema capitalista, com o seu foco no modelo de crescimento econômico incessante e na exploração do patrimônio natural, também designado pelos liberais, de recursos naturais, esteja aí à razão fundamental dessas mudanças globais. Segundo essa perspectiva, a ênfase no capital, na acumulação de riquezas e no consumo, ou seja este modo de pensar e viver, é o que está levando o planeta a um estado crítico, em que os limites naturais estão sendo ultrapassados de maneira insustentável.
Ainda há uma terceira corrente de pensamento que sugere que essas transformações devem ser compreendidas no contexto das lógicas da modernidade e suas contradições inerentes. Esse ponto de vista considera que a modernidade, com sua sobrevalorização do individual, do poder, da racionalidade e controle sobre a natureza, geraram um conjunto de práticas e ideologias que agora estão entrando em choque com as limitações físicas e ecológicas da Terra. Assim, enquanto alguns vêem o Antropoceno como uma nova etapa desenvolvida da evolução da Terra sob a influência humana, outros apontam para as profundas contradições que culturalmente foram estabelecidas por esse tempo histórico, conhecido como modernidade, resultado direto dos sistemas sociais, econômicos e culturais que o moldam.
Para tanto, desta
lição, podemos entender que teremos que rejeitar as formas apreendidas ao longo
do tempo que nos moldaram em pensamento e práticas insustentáveis. A negação
deste formato não será uma tarefa fácil, pois ele se constitui e se manifestou
em todas as dimensões da vida moderna. Nas famílias, na escola, na rua, no
trabalho e nas redes sociais. Cabe refazermos esse designe propondo outro
modelo que siga as trilhas, as pistas, os sinais e as formas sustentáveis
existentes e outras que, pela imaginação, inovação e criatividade humana, em
breve virão à tona.
Essa nova geração
terá duas funções iniciais. Primeiro não
repetir os erros cometidos pelas gerações anteriores. Segundo apreender de
forma consistente de que a saída para essa crise esta em adotar um pensamento,
uma pratica, um modelo sustentável de viver. Desta forma poderemos iniciar uma jornada
do conhecimento para a vida, não é apenas uma busca por respostas, mas uma
trajetória que deve ser apreciada em si mesma. Ser feliz ao longo dessa
jornada, explorar novas trilhas, adquirir novas perspectivas, são aspectos
fundamentais do processo de aprendizagem. Nem todos os resultados serão
imediatamente positivos, especialmente sob a ótica financeira, mas a
experiência adquirida e a sabedoria acumulada são inestimáveis.
Quando se trata de comparação, a única comparação válida é com nossa espécie. Refletir sobre quem fomos ontem, quem somos hoje e quem desejamos ser amanhã é um exercício de autoconhecimento, persistência e resiliência. Esta busca contínua não é apenas uma prova de força intelectual, mas também uma exploração das condições humanas e das potencialidades da nossa natureza.
Essa conexão está presente na argumentação de Fritjof Capra em sua obra "A Teia da Vida" e como exemplificado por James Cameron em "Avatar", reflete uma interdependência profunda entre todas as formas de vida. Em Pandora, planeta imaginado por Cameron, os seres estão conectados de maneira intrínseca a todas as formas de vida ao seu redor. Essa visão holística da vida é essencial para reconstruirmos nossa relação com o planeta e entre nós mesmos.
Outro aspecto crucial a ser destacado é a importância da colaboração/cooperação na experiência humana. Entendemos que ao colaborar, não apenas atingimos nossos objetivos de maneira mais eficaz, mas também enriquecemos nossa vida, fortalecendo o senso de pertencimento e propósito comum como espécie. A colaboração/cooperação, juntamente com os diálogos, formam os elementos fundamentais para a reconstrução do humano. Através dela, podemos expandir nossa empatia, cultivar a solidariedade e fortalecer nosso senso de conexão com a vida, tanto dos seres humanos quanto com toda a biosfera e sua biodiversidade.
*Paulo Bassani é cientista social
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