Reflexões de nosso Tempo
Trump e Francisco
Muros e Pontes: um ensaio sobre Trump e Papa Francisco*
No
cenário contemporâneo global, poucas figuras públicas simbolizam de maneira tão
oposta as atitudes humanas frente à natureza e à convivência entre os povos
quanto Donald Trump e o Papa Francisco. De um lado, uma voz que se eleva em
defesa da separação, da dominação e da exploração; de outro, um apelo contínuo
por unidade, cuidado e diálogo. As trajetórias de ambos revelam mais que
diferenças políticas ou religiosas, expõem duas visões de mundo em choque.
Donald
Trump, durante seu mandato como presidente dos Estados Unidos (2017–2021 e
agora 2025-2028), adotou e vem adotando uma postura abertamente cética em
relação às questões ambientais. Sua política antiambiental, é uma declaração de
guerra contra a própria vida. Representa a voz dos que querem transformar
a Terra em mercadoria, das elites que preferem negar a emergência ecológica.
Sua retirada do Acordo de Paris sobre o clima, o incentivo à exploração de
combustíveis fósseis e o desmonte de regulamentações ambientais marcaram seu
governo. Para Trump, a natureza parecia ser mais um recurso a ser dominado e
comercializado do que um bem comum a ser protegido. Da mesma forma, sua
obsessão pela construção de muros, em especial, o muro na fronteira com o
México que simboliza a lógica da separação, do medo do outro, da fragmentação
social, para nós tudo e para os outros nada. Além de fazer questão de nos
lembrar de seu poderio militar, espalhado pelo mundo com suas bases militares e
sua força destruidora.
Em
contraposição, o Papa Francisco, líder da Igreja Católica desde 2013, tem se
tornado uma das vozes mais influentes na defesa da natureza e da fraternidade
humana. Sua encíclica Laudato Si’
(2015) é um marco no pensamento ambiental contemporâneo, convocando a
humanidade a uma "conversão ecológica" e a integridade ecológica como
fundamento, e reconhecer a Terra como nossa "casa comum". A natureza
é um patrimônio da humanidade e assim deve ser tratada com parte integral de
uma teia da vida que fazemos parte. Francisco falou insistentemente sobre a
necessidade de construir pontes: entre povos, culturas, religiões e também
entre a humanidade e a natureza. Para ele, o cuidado com os pobres e com o
planeta são inseparáveis, ambos vítimas da lógica predatória de uma economia
que prioriza o lucro em detrimento da vida.
Enquanto
Trump propõe o isolamento como resposta à diferença e a exploração como
resposta à crise ambiental, Francisco propõe o encontro como resposta à
diferença e a regeneração como resposta à crise. Trump ergue muros físicos e
simbólicos, por outro lado Francisco estende mãos e constrói pontes, apostando
na força da fraternidade e da compaixão dos seres humanos independentemente de
cor da pelo, etnia, religião ou sexualidade.
Esses
dois personagens nos obrigam a refletir sobre o tipo de sociedade que desejamos
construir. Diante dos desafios globais, mudanças climáticas, guerras, migrações
forçadas, desigualdade social, o futuro se inclina para aqueles que, como
Francisco, reconhece que estamos todos interligados, não apenas entre nós,
humanos, mas com todas as formas de vida que conosco convivem neste planeta.
Em tempos
de emergência climática e de tensões sociais crescentes, precisamos mais de
pontes do que de muros. E a escolha entre essas duas metáforas é, também, a
escolha entre dois futuros possíveis para o planeta. Enquanto Trump constrói
muros para isolar e explorar, Francisco constrói pontes para curar e regenerar.
Uma aposta na fragmentação do mundo, na intensificação das injustiças, e na
exploração dos recursos naturais, enquanto que o outro caminha na reconstrução
paciente de uma fraternidade ferida. A distância entre eles é, na verdade, a
distância entre dois projetos de humanidade.
A
história cobrará um preço. Para aqueles que erguem muros de arrogância, o
legado será a ruína e a vergonha. Para aqueles que plantam pontes de esperança,
talvez reste a chance, ainda que frágil, mas real, de salvar o que ainda pode ser salvo. Neste
tempo sombrio, não se trata apenas de opiniões acerca desses dois projetos, mas
de uma escolha que poderá definir o tempo de nossa habitabilidade planetária.
O que
está em jogo é a luta entre a barbárie e a civilização.
Entre a voracidade de poucos e o direito à vida de todos. Entre os muros de arrogância, e as pontes de esperança.
Temos uma opção em nossas mãos e a história em breve nos irá cobrar isso.
*Paulo Bassani
é cientista social
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