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terça-feira, 29 de abril de 2025

 Reflexões de nosso Tempo

Santo Antônio da Platina -Pr
29/04/2025
https://www.portaltanosite.com/noticia/166622/muros-e-pontes-um-ensaio-sobre-trump-e-papa-francisco

                                                            Paulo Bassani

                                                       Trump e Francisco


Muros e Pontes: um ensaio sobre Trump e Papa Francisco*

 

No cenário contemporâneo global, poucas figuras públicas simbolizam de maneira tão oposta as atitudes humanas frente à natureza e à convivência entre os povos quanto Donald Trump e o Papa Francisco. De um lado, uma voz que se eleva em defesa da separação, da dominação e da exploração; de outro, um apelo contínuo por unidade, cuidado e diálogo. As trajetórias de ambos revelam mais que diferenças políticas ou religiosas, expõem duas visões de mundo em choque.

Donald Trump, durante seu mandato como presidente dos Estados Unidos (2017–2021 e agora 2025-2028), adotou e vem adotando uma postura abertamente cética em relação às questões ambientais. Sua política antiambiental, é uma declaração de guerra contra a própria vida.  Representa a voz dos que querem transformar a Terra em mercadoria, das elites que preferem negar a emergência ecológica. Sua retirada do Acordo de Paris sobre o clima, o incentivo à exploração de combustíveis fósseis e o desmonte de regulamentações ambientais marcaram seu governo. Para Trump, a natureza parecia ser mais um recurso a ser dominado e comercializado do que um bem comum a ser protegido. Da mesma forma, sua obsessão pela construção de muros, em especial, o muro na fronteira com o México que simboliza a lógica da separação, do medo do outro, da fragmentação social, para nós tudo e para os outros nada. Além de fazer questão de nos lembrar de seu poderio militar, espalhado pelo mundo com suas bases militares e sua força destruidora.

Em contraposição, o Papa Francisco, líder da Igreja Católica desde 2013, tem se tornado uma das vozes mais influentes na defesa da natureza e da fraternidade humana. Sua encíclica Laudato Si’ (2015) é um marco no pensamento ambiental contemporâneo, convocando a humanidade a uma "conversão ecológica" e a integridade ecológica como fundamento, e reconhecer a Terra como nossa "casa comum". A natureza é um patrimônio da humanidade e assim deve ser tratada com parte integral de uma teia da vida que fazemos parte. Francisco falou insistentemente sobre a necessidade de construir pontes: entre povos, culturas, religiões e também entre a humanidade e a natureza. Para ele, o cuidado com os pobres e com o planeta são inseparáveis, ambos vítimas da lógica predatória de uma economia que prioriza o lucro em detrimento da vida.

Enquanto Trump propõe o isolamento como resposta à diferença e a exploração como resposta à crise ambiental, Francisco propõe o encontro como resposta à diferença e a regeneração como resposta à crise. Trump ergue muros físicos e simbólicos, por outro lado Francisco estende mãos e constrói pontes, apostando na força da fraternidade e da compaixão dos seres humanos independentemente de cor da pelo, etnia, religião ou sexualidade.

Esses dois personagens nos obrigam a refletir sobre o tipo de sociedade que desejamos construir. Diante dos desafios globais, mudanças climáticas, guerras, migrações forçadas, desigualdade social, o futuro se inclina para aqueles que, como Francisco, reconhece que estamos todos interligados, não apenas entre nós, humanos, mas com todas as formas de vida que conosco convivem neste planeta.

Em tempos de emergência climática e de tensões sociais crescentes, precisamos mais de pontes do que de muros. E a escolha entre essas duas metáforas é, também, a escolha entre dois futuros possíveis para o planeta. Enquanto Trump constrói muros para isolar e explorar, Francisco constrói pontes para curar e regenerar. Uma aposta na fragmentação do mundo, na intensificação das injustiças, e na exploração dos recursos naturais, enquanto que o outro caminha na reconstrução paciente de uma fraternidade ferida. A distância entre eles é, na verdade, a distância entre dois projetos de humanidade. Não há mais tempo para neutralidade, a emergência climática é agora, a injustiça é agora. A escolha é agora!

A história cobrará um preço. Para aqueles que erguem muros de arrogância, o legado será a ruína e a vergonha. Para aqueles que plantam pontes de esperança, talvez reste a chance, ainda que frágil, mas real,  de salvar o que ainda pode ser salvo. Neste tempo sombrio, não se trata apenas de opiniões acerca desses dois projetos, mas de uma escolha que poderá definir o tempo de nossa habitabilidade planetária.

O que está em jogo é a luta entre a barbárie e a civilização.
Entre a voracidade de poucos e o direito à vida de todos. Entre os muros de arrogância, e as pontes de esperança. Temos uma opção em nossas mãos e a história em breve nos irá cobrar isso.

 

*Paulo Bassani é cientista social

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