ARTIGO
A
Campanha da Fraternidade Brasileira de 2025 traz como tema "Fraternidade e
Ecologia Integral", uma escolha acertada e extremamente pertinente da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O tema reflete uma
preocupação global e urgente: a relação entre os seres humanos e o planeta
Terra, nossa Casa Comum. Amparados por dados e estudos científicos, sabemos que
estamos vivendo um tempo de Emergência Climática, caracterizado por suas
múltiplas interfaces sociais, econômicas, políticas e culturais.
Até
o final do século XX, já se percebia que os modelos de desenvolvimento e
expansão econômica baseados na extração intensa de recursos naturais,
transformação e produção acelerada de mercadorias estavam causando impactos
severos nos biomas e na biodiversidade planetária. Naquele período, o debate
sobre os efeitos das mudanças climáticas ainda se centrava no conceito de
"Aquecimento Global", como discutido nas Conferências das Partes
(COPs) e nos relatórios do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC)
da ONU. Contudo, com o avanço dos estudos e a crescente evidência dos impactos
dos modelos de produção e consumo, a terminologia evoluiu para "Mudanças
Climáticas" e, mais recentemente, "Emergência Climática". Essa
mudança semântica reflete a urgência de ações concretas, uma vez que os
desequilíbrios ambientais se intensificam de forma alarmante, manifestando-se
em eventos extremos como chuvas torrenciais, estiagens prolongadas, elevação do
nível dos oceanos e ondas de calor devastadoras. Esses fenômenos são
impulsionados pelo aumento das emissões de gases de efeito estufa,
desmatamentos, queimadas e diversas formas de poluição que contaminam o solo, a
atmosfera, os rios e os mares.
Neste
contexto, a Campanha da Fraternidade remete aos princípios da Carta da Terra,
documento publicado no início dos anos 2000 e que destaca quatro eixos
fundamentais para a sustentabilidade global:
1. Respeito e Cuidado pela Comunidade de Vida
2. Integridade Ecológica
3. Justiça Social e Econômica
4. Democracia, Não Violência e Paz
Esses princípios demandam uma nova consciência de interdependência global e uma responsabilidade compartilhada pela preservação da vida. Como afirma a Carta da Terra: "Como nunca antes na história, o destino comum nos conclama a buscar um novo começo". Esse novo começo exige um compromisso coletivo com o cuidado da Casa Comum e com todas as formas de vida que nela habitam. E nós seres inteligentes, imaginativos, criativos somos responsáveis com o cuidado de tudo e de todos.
O
Papa Francisco adotou esses princípios desde o início de seu papado,
evidenciado simbolicamente pela escolha do nome em homenagem a São Francisco de
Assis, patrono da ecologia. Sua doutrina reflete valores de respeito, amor,
justiça e proteção para com todas as criaturas, humanos e não humanos. Essas
premissas estão fortemente presentes em suas encíclicas, discursos e gestos
pastorais, que enfatizam a necessidade de diálogo e cooperação entre os povos,
respeitando suas diversidades culturais, étnicas, religiosas e sociais.
O
cerne desta Campanha da Fraternidade é o reconhecimento de que todos podem e
devem assumir o papel de educadores ambientais, promovendo a consciência
ecológica e disseminando práticas sustentáveis. Isso inclui o incentivo a
iniciativas de preservação e recuperação ambiental, bem como a luta por uma
sociedade mais justa e inclusiva, onde ninguém seja marginalizado pela fome,
pela pobreza ou pela guerra.
Defender
a integridade ecológica significa proteger a vida em todas as suas
manifestações e reconhecer que todos os seres vivos compartilham um mesmo
planeta, interligados pela teia da vida. O chamado é para uma fraternidade
genuína, sustentada pelo amor, pelo cuidado e pela responsabilidade coletiva.
Este é um momento de reflexão profunda, mas também de conscientização e ação
transformadora. Somente por meio de um compromisso concreto e efetivo seremos
capazes de garantir um futuro digno para as gerações presentes e futuras,
construindo juntos uma sociedade verdadeiramente sustentável, justa e fraterna.
*Paulo Bassani é
cientista Social
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