Artigo
Santo Antônio da Platina, PR
https://www.portaltanosite.com/noticia/155483/um-design-natural-aprendendo-com-a-natureza
Um design natural: aprendendo com a natureza*
A
vida ocorre em tempos diferentes: o tempo de existência, o tempo de
aprendizagem e o tempo das descobertas. Hoje, vivemos um momento crucial em que
esses tempos convergem, desenhando um novo design civilizacional. Esse desenho
é profundamente condicionado pela compreensão de nossa dependência da natureza,
elemento essencial de nossa existência.
Nesta
nova etapa, somos convidados a reconstruir uma relação com o mundo natural, uma
conexão há muito negligenciada. Por séculos, distanciamos nossa prática e
percepção de mundo das bases naturais de onde emergimos motivados pelo
desconhecimento ou pelo predomínio de uma racionalidade instrumental,
utilitarista e ambiciosa. Essa perspectiva, que priorizou a exploração e a
eficiência, sobrepôs-se a uma racionalidade sensível, ou, como Enrique Leff nos
sugere uma racionalidade ambiental. Hoje, percebemos a urgência de reavaliar
essa postura. O entendimento de que a natureza é vital para nossa vida e sua
qualidade em todos os espaços, sejam urbanos ou rurais, exige uma transformação
radical em nossa maneira de olharmos e de fazer as coisas. Mais do que modelo
de desenvolvimento estamos em busca de um modelo de envolvimento próximo entre
os homens e a natureza em todos os territórios de vida.
Essa
mudança começa com a observação cuidadosa e o diálogo com conhecimento o
científico acumulado. Ela aponta para soluções inspiradas na natureza,
aproximando os ambientes construídos de sua originalidade natural. Essa
proximidade é um convite a repensarmos nossas respostas sociais, econômicas e
culturais, pavimentando um caminho mais harmônico entre homens e natureza.
Estamos
imersos em um cenário de mudanças climáticas, caracterizado por extremos
provocados pelo impacto humano sobre biomas, terras e oceanos. Mitigar esses
danos requer ação imediata, local e global, para reverter o desequilíbrio em
curso. Esse movimento implica, sobretudo, um olhar renovador para o território
em que vivemos uma prática de autoconhecimento que nos leva a importância:
somos natureza. Pensamos, imaginamos, criamos, mas somos, acima de tudo, parte
dela. Essa consciência nos confere a responsabilidade de compatibilizar os
espaços de vida que a modernidade construída com a natureza que, por muito
tempo foi ignorada, pensado que poderíamos viver sem ela.
Um
novo design começa a emergir, manifestando-se em casas, prédios, condomínios,
parques e jardins. Esses lugares se transformam em refúgios harmônicos,
repletos de cores, cheiros, sombras e micro climas. Um design estético que cria
e recria os ambientes muito próximos do que a natureza sugere, ou o que se divulga hoje na busca de soluções baseadas na natureza. A integração do
verde, das flores e dos elementos naturais ressignifica os ambientes,
tornando-os mais acolhedores, únicos com experiências inesquecíveis.
Essa
busca pela recomposição ecológica, pela recuperação, pelo plantio e pela
manutenção dos pequenos, mas preciosos espaços compartilhados entre humanos e o
mundo natural, é agora essencial. Não se trata apenas de uma escolha, mas de
uma responsabilidade coletiva, que envolve tanto cidadãos quanto empresas. A
incorporação de práticas sustentáveis no âmbito do ESG (Environmental,
Social, and Governance) é um passo crucial, mas não menos importante que o
compromisso de cada um diante das tarefas recuperadoras e cuidosas que teremos
pela frente
Quanto
mais estreitarmos essa conexão entre urbanidade e ruralidade, mais ampliaremos
nossas possibilidades de estabelecer uma nova relação com a natureza, uma
relação de sintonia, capaz de agregar qualidade de vida, beleza e harmonia ao
cotidiano. Este é o desafio e, ao mesmo tempo, a promessa do design natural:
recriar espaços que nos reconectam ao que somos ao que sempre fomos, a natureza
que pensa, cria e sonha com um futuro mais equilibrado e sustentável.
* Arthur Barbosa Bassani é agrônomo
** Paulo Bassani é cientista social
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