ARTIGO
A sociedade e a cidade, em sua expressão
cotidiana, de mercado, se assenta basicamente sobre a competição, traduzindo-se
num conjunto de indivíduos, isolados que vivem um aglomerado espaço-tempo. Esta
é uma concepção de densidade baixa e insustentável para as cidades. Queremos
pensar e construir um novo paradigma para as sociedades e para as cidades, que
desperte o viver assentado nos princípios de equilíbrio, qualidade,
preservação, segurança, coletividade, participação. Tudo com um firme
propósito, de em conjunto, alcançar a sustentabilidade necessária, predispondo
de outro tipo de sociabilidade participativa, colaborativa, resiliente,
solidária e horizontal.
Este
cenário paradigmático que propomos encontrar-se fundado na qualidade de vida e
do bem viver. Para tanto, necessitamos estabelecer um rompimento definitivo
deste olhar tradicional, tratamento da cidade em seu estado atual e,
estabelecer um novo, pois ela que nos acolhe como seres inteligentes,
imaginativos e criativos, portanto como seres capazes de pensar e agir, por
isso espera-se algo mais para uma urbanidade sadia. Hoje temos os meios de
saber e construir um conhecimento que edifique um fazer que possa dar outro
curso nos processos social, econômico, cultural e ambiental das nossas cidades.
Os
paradigmas organizacionais urbanos que nos trouxeram até aqui estão defasados e
inoperantes. A história se encarregou de demonstrar, o máximo que conseguem,
diz respeito, a realizar pequenas reformas que no fundo são realizadas para
apenas prolongar os modelos em curso. As soluções que políticos e gestores
tradicionais propõem, seguem um padrão de continuidade do que aí está, e, não
conseguem pensar e nem propor metodologias de estruturação e ação
participativas e transformadoras. Estão presos a um circulo vicioso do mais e
melhor, segundo eles, do mesmo.
Para
quebrar este vinculo e estes procedimentos são três as propostas
político-educacionais e organizacionais que necessitamos cultivar na preparação
do solo urbano para um novo tempo:
a) Educação,
formação e capacitação a todos: Programar e
implementar uma educação permanente dos agentes publicas e da população em
geral;
b)
Um poder político local disposto a compartilhar a gestão pública de forma
colaborativa: Estabelecer uma
dinâmica participativa nas principais decisões e prioridades, sobre a
elaboração, implantação e acompanhamento das políticas públicas;
c) Uma
consciência colaborativa responsável, participativa e compartilhada da
população envolvida: Cultivar, apreender e
ensinar uma consciência crítica colaborativa e participativa que gere atitudes,
comportamentos e que com o tempo se transformem em hábitos.
O
poder político constituído implica na gestão dos prefeitos eleitos, sua
composição de secretariado e assessores, bem como da câmara municipal, para
trabalhar nesta perspectiva de um plano diretor associado a um plano de gestão
publica que dialogue e estabelecer um compartilhamento dos processos que
implicam na construção e implementação das políticas públicas para e com a
população.
A
consciência colaborativa e o senso de pertença será fundamentação cultural
necessária para a compreensão, motivação e adesão aos processos de
transformação a que se propõe.
Esse
conjunto de fatores implica nas bases de uma cidadania empoderada, resiliente
com sentimento forte de pertença a um território que escolheu para viver e
preparado para os desafios da implantação, manutenção e continuidade de cidades
sustentáveis. Em outras palavras, uma emancipação cidadã necessária para
atingir a um patamar civilizatório onde o viver com qualidade, implica em viver
uma cidade planejada, articulada, mobilizada, segura, com o emprego e renda,
geradora de formas saudáveis e humanas do bem viver coletivo.
Outro
aspecto importante no viver urbano, com o formato que apresentamos, diz
respeito ao controle, separação, coleta e reciclagem dos resíduos sólidos
urbanos, pois vivemos numa sociedade de consumo e produtora de resíduos, todo
tipo de resíduos. Controlar esse processo torna-se um imperativo.
E
deste formato entender que será necessário reaprendermos a viver com a natureza
urbana que embeleza e nos proporciona uma vida saudável. Das nascentes, dos
córregos, rios, lagos, árvores, flores e pássaros a terra e o ar que respiramos
todos coabitando o mesmo território urbano.
A transição para
cidades colaborativas sustentáveisrequer uma abordagem integrada que articula
educação, capacitação, gestão e transformação cultural. Este modelo deve
considerar as interdependências e as multidisciplinaridades entre os aspectos
sociais, econômicos, culturais e ambientais da vida urbana. Ao adotar essas
diretrizes, é possível vislumbrar uma urbanidade mais justa, equilibrada e
resiliente tão necessária ao nosso tempo.
*Paulo Bassani é cientista social
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