Artigo
Folha de Londrina
Espaço Aberto
24/10/2024

Reconstruir o pensar*
“O pensar é para os
homens o que o voar é para os pássaros”
Albert Einstein
Entramos num ciclo de falências
pessoais, coletivas, institucionais. Em cada segmento podemos estabelecer
algumas análises que levantam uma série de preocupações. É assim que
me encontro nesse momento de escrita e reflexão. Se num dado momento tudo, ou
quase tudo, revela-se num desencantamento. Por outro lado, ao estabelecer um
olhar mais atento percebo por entre as frestas algumas possibilidades.
Nesse encantamento, que as
frestas permitem ver, a natureza o meio ambiente nos chama atenção. Como
pesquisador, ambientalista e, habitante-cidadão do planeta que chamamos de
Terra, nos recai uma responsabilidade imensa. Responsabilidade que se
transforma em encantamento associado a um conhecimento que nos permite ler e
entender minimamente a relação da espécie humana com a natureza.
Esse entendimento se constrói,
sem necessariamente, pertencermos a uma única escola do pensamento, a uma única
teoria, porém ela terá que ser transformadora, holística sustentável e
emancipatória. Acredito que podemos dizer e estabelecer alguns
entendimentos sob a forma de não fazer as coisas que foram realizadas até hoje.
Entretanto, tenho dedicado meus estudos sobre as possibilidades, incertezas,
riscos, dúvidas, sonhos e utopias que temos pela frente.
Como chamava atenção os pensadores
chilenos Maturana e Varella, alertavam que as explicações científicas são
validadas no domínio de experiências de uma comunidade de observadores
científicos e tanto nas universidades, centros de pesquisa e outros lugares
produtores de conhecimento teremos em cena uma comunidade heterogenia, diversa
como nossa realidade.
Deste grande laboratório que é a vida
de observações e análises, gera linguagens, maneiras de pensar que expressam
essa multiplicidade, epistêmica, hermenêutica, teórica e metodológica da
ciência que confio, da ciência que me orienta.
Meu pensar formaliza-se a partir das
Ciências humanas, não sou seu porta voz, apenas tento estabelecer uma recorte
de uma trajetória de estudos, produção de conhecimentos e práticas ambientais
que remontam a o início dos anos de 1990 com a Eco conferencia do Rio de
Janeiro de 1992. De lá para cá percorremos uma longa trajetória de leituras,
escritos e debates. Este percurso ocorreu focado no desejo de tecer, a partir
de um olhar crítico do passado, um presente e um futuro equilibrado, com
preservação e qualidade de vida para todos os seres vivos e para a casa comum.
Esse conjunto de observações e
experiências me levaram a pensar a Educação Ambiental, como um exercício de
cidadania, ao formar o eco-cidadão no qual, considero condição indispensável no
processo educativo de qualquer ser humano, independentemente de sua área de
formação, ou mesmo que não tendo nenhuma instrução formal. Processo que se
manifesta como ato de pensar a produção de um saber ambiental possível, no seio
desta profunda crise civilizacional que nos encontramos.
Penso, nesta esteira, em
estabelecer um traçado mínimo envolvente que possa motivar a todos diante dos
desafios de nosso tempo. Pois, é no conjunto de experiências, na diversidade de
olhares que poderemos encontrar algumas respostas para o impasse que nos
encontramos.
Diante disso qualquer separação
entre objetividade e subjetividade parece pouco fecunda a análise crítica. Uma
forma prudente de conhecer é quando se distingue, por um lado, os processos
objetivos que existem independentemente de nossa percepção, e outros que
dependem de nós. Entendendo que os processos subjetivos brotam de nossos
desejos, emoções, intenções. A questão é dar conta de suas complexas
inter-relações e interdependências. Isto significa identificar que refletimos
criticamente sobre o modo como contribuímos para construir realidades que
desconhecemos e as que rejeitamos, assim com as que as projetamos e realizamos.
A história da humanidade foi
realizada pela nossa espécie, às vezes como avanço, às vezes como retrocesso e,
hoje temos duas decisões a tomar: ou aceitamos este legado ou negamos e
construímos um novo. Se aceitarmos a história passada que corre pela axiologia
mercadológica, acumuladora, impactante de mundo, assim negaremos nossa
capacidade de pensarmos outros mundos possíveis.
Outra decisão é a de começamos a fazer uma história
diferente. Uma nova história implica em superarmos as tragédias e
desencantamentos que nos levaram até aqui. Toda a criação sempre foi um dia
considerada impossível, tanto no pensamento, quanto nas suas práticas, o que
devemos ter é que o novo, o diferente, o inexistente está logo ai
adiante. A história em seu caminho emancipado coloca-nos diante de uma
atitude corajosa e esperançosa em termos de construtos de um amanhã inspirado
em sua versão sapiens que com seu brilho, luz poderá irradiar novas formas.
Diferente do pensamento comum que
apregoa, enfatiza a necessidade de conhecer o passado para entender o presente,
penso no oposto, necessitamos entender o presente para decifrar o passado que
assentou as bases de nosso cotidiano e que vem engessando a construção de
futuro.
Não devemos nos contentar com o que existe, devemos
buscar sempre melhorar o mundo ao nosso redor, para que se torne um lugar
melhor para viver a tudo e a todos que formam a grande teia da vida.
*Paulo Bassani é cientista social