TESTE POP

terça-feira, 2 de abril de 2024

 ENSAIO

Folha de Londrina
Espaço Aberto
pág.02 - Dia 02/04/2024


 Por que transitar pelo universo da poesia?


         Busco com meus versos não apenas criar uma estrutura de palavras, mas sim transmitir minha visão, interpretação e percepção do mundo que nos cerca. Escrever poesia é como respirar novos ares, ares que nutrem nossa sensibilidade e nos conectam com a essência humana, numa busca permanente. É alimentar, despertar sonhos e utopias que habitam em nossa alma, ao encontro de uma expressão única, original, singular.

     Escrevo poesia para contrapor o pragmatismo frio e calculista da vida nesta alta modernidade. Para que a expressão vida tenha um sentido fora do ter e encontre um acolhimento no ser, e nesse aconchego como uma chama ardente que inflama a mente, busco nutrir as nossas emoções. É uma busca pela compreensão do tempo, da natureza e das profundezas humanas, uma força que redefine e transforma nossa existência, impulsionando ao passo seguinte, ao dia seguinte.  Na poesia, encontramos liberdade para interagir com o mundo ao nosso redor, seja o conhecido ou o desconhecido, transcendendo nossas limitações e nossas compreensões. O fato de não conhecer algo não significa a não existência de algo, cabe a procura a descoberta. Ao traçar versos, somos levados a pensar no Mito de Prometeu da Grécia antiga.  Prometeu como personagem que antecipa o futuro, mas também como Epimeteu, com suas ideias tardias refletindo sobre o passado. Pois transitamos entre a clarividência e a incerteza, navegando por um mar de modernidade que destrói e reconstrói incessantemente nosso mundo e nossa visão de mundo, e dos destroços tentamos reconstruir novos sonhos, novas possibilidades.

Escrever poesia é transitar entre o desespero e a esperança, entre o caos e a contemplação. É um exercício que nos permite explorar nossos potenciais, regenerando nossa condição humana em meio ao exercício solitário no silêncio das palavras e ao ruído das ruas e praças. Por instantes poéticos estimulamos nossa capacidade de ser ator de nossas ações, como Sísifo conduzindo sua pedra, segue em frente mesmo sabendo das dificuldades, ditadas por um mundo disperso, desatento, intolerante, determina o ritmo e intensidade de sua caminhada.

Às vezes o belo nos inspira às vezes o brutal nos revolta. Sempre há uma leitura, uma aptidão interpretativa do mundo que nos rodeia, com indignação e desprezo, ou com paixão e afago. Os dilemas esquecidos, passados, vividos, e o que virão sempre serão matéria para traçar novas linhas, muito se apaga e muito se revela, o tempo passará, e as palavras permanecerão.  

Fazer poesia é enxergar o mundo com outros olhos, mesmo quando estes, hoje, estejam obscurecidos pela poluição e pelas narrativas distorcidas das redes sociais. Transitar entre o desespero e a esperança é a sina de quem faz poesia nessa contemporaneidade. É um ato de criação, onde a sensibilidade e espiritualidade guiam nossas palavras, deixando um pedaço de nós em cada verso. Esse ato de criação de exige inspiração, iluminação para que as palavras possam ganhar sentidos, formas e assim ingressarem numa gramática inventiva  onde o esforço do pensamento se faz realidade e o fazer poético se concretiza.

Este é o exercício poético transitar como um espírito que dele se afasta, mas que nele permanece. Pois há uma espiritualidade oculta que tudo comanda quando com a alma escrevemos. Não saio de um poema como entrei, nele ficou algo que aprendi algo que vivi algo que deixei. Amanhã faremos, escreveremos, compomos novos, pois neste amanhã encontraremos novos alimentos.

Assim, seguimos adiante, alimentando-nos com leituras, com escritos poéticos, com novas experiências estimulando as emoções, pois é neste ciclo que encontramos, ou nos aproximamos de nossa verdadeira essência  humana.  

 *Paulo Bassani, escritor, poeta, cientista social e palestrante

 


 


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