Contribuições de Boaventura
de Sousa Santos - BSS para entender nosso tempo*
Hoje carecemos de uma compreensão
global do que realmente esta acontecendo no mundo, tudo cada vez mais complexa,
cada dia mais impactante as formas de desenvolvimento em curso, onde muitas
coisas ocorrem simultaneamente, às vezes relacionadas, às vezes se somando a
tantas outras tudo, no geral, opontando para um horizonte sombrio e de poucas
perspectivas.
Os dados e análises da ONU e das
grandes universidades e centros de pesquisas apontam que problemas como a fome,
desemprego, miséria, guerras, mudanças climáticas em curso, com uma era de
extremos se instalando. Onde os mares tiveram uma elevação de cerca de nove
centímetros em media nos últimos 30 anos, devido ao degelo dos pólos, dos
glaciares e das montanhas, a temperatura das águas marinhas oceânicas vem gradativamente aquecendo, isso
causando uma série de eventos como tornados, numa intensidade crescente. Secas,
estiagens prolongadas de um lado e chuvas torrenciais em outro. Há, também, cerca de 44 conflitos
humanitários, ocorrendo pelo mundo e, outras tantas seqüelas de um futuro
incerto.
Há, nesse viés, portanto, um
descompasso entre teoria e prática social que contribuem muito mais para
confundir, desacreditar do que para esclarecer, elucidar e ajustarmos termos
possíveis de entendimento do rumo das coisas.
Nesse sentido BSS nos lembra oportunamente “Para uma teoria cega a
prática social é invisível, para uma prática cega a teoria social é
irrelevante”. Esta referência é fundamental para entendermos nosso tempo onde
as referências que tinham um lugar destacado até bem pouco tempo, hoje talvez,
pela modernidade líquida, pelo tempo de incertezas, riscos e forte influência
das redes sociais que, a nosso ver, mais colaboram para a vulgarização de
teorias e práticas conseqüentes, que para seu construto. Oportunamente lembra BSS
ao cunhar, neste momento, talvez, não necessitamos de um novo conhecimento e
sim possibilitar, a geração de um novo modo de produzir o conhecimento. Esse
modo que incorpore imaginação, criatividade inovação e sustentabilidade, além
da razão e da emoção, tudo num mesmo estágio civilizatório.
O modelo de desenvolvimento
hegemônico não soluciona problemas, agrava-os, não somos nós que afirmamos, são
os dados, na dimensão do emprego e renda, nos impactos ambientais e no
horizonte de uma vida de qualidade. Por isso que BSS propõe que a questão não é
de apresentar um modelo de desenvolvimento que hoje se fundamenta no
empreendedorismo, inovação e tecnologias de ponta, mas sim apresentar uma
alternativa ao desenvolvimento. Nesse inventário identificarmos a construção de
um paradigma prudente para emergir uma vida decente. Que seja dialógico, equilibrado,
justo, solidário, sustentável e democrático. Um desafio para a nova geração de
cientistas, intelectuais e de todos que se preocupam em encontrar as
possibilidades de estruturar trilhas que possam garantir a continuidade e a
habitabilidade da vida humana neste planeta.
Por isso um pensamento crítico,
alternativo, emancipado e sustentável se faz necessário para poder orientar a
compreensão e a construção de mundo que se assente numa cultura sustentável,
inclusiva, participativa e de alto teor nos processos democráticos. Talvez este
seja o caminho para reinventar a emancipação social proposta por BSS, de semear
outras soluções, democratizando a democracia, reconhecer para libertar e
trabalhar o mundo.
*Paulo Bassani é
cientista social e prof. universitário
* Arthur Barbosa
Bassani é formando em agronomia da UEL
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