A arte de ser professor*
Aprendi a não ser um professor que suja os sapatos
apenas entre o estacionamento e a sala de aula, em dias
de chuva, é preciso enlodar em outros campos. O
academicismo em si, mais parece à redefinição dos
mosteiros da idade média. Necessitamos de uma práxis
permanente, encontrar nesses outros campos através das
observações, dos diálogos, elementos para poder
capacitar, preparar, empoderar a população, elaborar e
re-elaborar o conhecimento nesta busca constante.
Trata-se de uma tarefa permanente de despertar na
condição humana a singularidade que nos une que
dialoga que colabora e, respeite toda a diversidade
cultural em seus modos de viver. Trata-se de novos
exercícios libertadores e criadores e que podem ser
trabalhados em todos os processos educacionais que
entenda inspire o olhar, o perceber, o sentir que o amanhã
poderá e deverá ser melhor que o hoje.
Esta será uma longa e difícil tarefa do ensino, da
educação e a cultura a de construir percepções novas de
mundo para reinventar o viver. Temos um longo caminho,
serão muitos exercícios de imaginação coletiva e criativa
para que na troca de experiências e informações,
possibilite com leituras críticas e a reflexão o
estabelecimento de roteiros possíveis, mesmo nas frestas
do velho, que insiste em sobreviver, e que o novo projeta-
se como luz que clareia os passos em direção ao futuro.
Irmos a ele sem saber o todo, sabendo o que não devemos
fazer, e que o construto do amanhã seja marcado pelo
diálogo de saberes, de experiências que nos ajudaram a
compor essa caminhada. E que o novo seja repleto de
coisas boas que agreguem sentido a vida. Cada passo no
caminho incerto encontrar uma mão que nos alcança um
olhar que nos insinue um coração que nos acolha, com
poesia sensibilidade e gratidão.
A arte de professorar exige tempo, muita leitura,
pesquisa, reflexão e compreensão da vida. Numa construção
permanente tentando ser a arte presente num quadro de
Vicent van Gogh, a sofisticação de FranK Sinatra, a
escrita de Graciliano Ramos, a voz de Milton Nascimento,
a delicadeza de Francisco de Assis, e nas qualidades de
todos e os mistérios indecifráveis de uma vida.
Todas são tentativas de ser. Ensinar e apreender a
ser e estar no mundo como seres humanos, raros, belos,
imaginativos, criadores do viver, do amanhã. Para que ele
possa ser melhor do que ontem. Penso ser essa a marca de
um professor, tentar ser e demonstrar seu valor na arte
cotidiana do educador. Toda essa bela arte pode até não
ser reconhecida pelo poder público, pela sociedade, pelos
estudantes, mas há alguém, mesmo no fundo da sala que
reconhecerá. Esse reconhecimento será o grito forte, o
olhar altivo, o sopro do vento, o brilho dos olhos, o
sorriso na face, o enigmático anjo que surge e ressurge.
Porque professorar é buscar sempre o inatingível, é
redimensionar nossos potenciais, nossas capacidades,
nossos sonhos. Olhar para o alto e acompanhar as estrelas
em sua direção num universo sem fim e, perceber que ainda
temos um longo caminho de aprendizagens, de
aprofundamentos necessários, de descobertas. Descobrir
onde se escondem as belezas da vida e na clarividência,
onde moram os segredos do conhecimento, de onde a
potencia da luz e do calor emergem trazendo a
ressignificação permanente.
*Paulo Bassani é cientista social, escritor e prof. universitário.
Folha de Londrina, Espaço Aberto - Opinião do Leitor, pág. 03 - Londrina, PR - 28/02/2023
http://folhadelondrinadigital.pressreader.com/article/281535115186537
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