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terça-feira, 20 de dezembro de 2022

                                                 Artigo,  Folha de Londrina, 19/12/2022

                                                                        Londrina, Paraná



 

Carta de agradecimento ao mestre Gerd !*

 

         Numa das primeiras conversas filosóficas que tive com um dos meus grandes mestres, Gerd Bornheim, que muito me inspirou em filosofia e teatro, ele fazia questão de lembrar que “a melhor forma de entendermos e nos fixarmos na realidade passa e perpassa necessariamente pela abstração”, por uma profunda intelectualização dos processos de conhecimento gerador de saberes. Pelo exercício teórico e pelas metodologias que conseguem alcançar, captar inúmeras determinações de uma realidade, de um fenômeno ou de um fato a ser explicado.

Isso porque, a realidade é sempre movimento com dificuldade de fixá-la e, ela dificilmente se revela imediatamente, necessitamos de um esforço do pensamento e da abstração que sinalize atingir esse alcance. Que clarei o percurso do entendimento numa escuridão donde ela geralmente se encontra.

Esta postura, mesmo que na vida cotidiana nos leva a outros caminhos e descaminhos e, devemos adotar o tempo todo em nossa vida, o seguinte princípio: se não for possível explicar com maiores detalhes e embasamento é melhor nos calar, observar, acompanhar sem nosso pronunciamento, pois corremos o risco de ser esta intervenção geradora de uma narrativa quase sempre inapropriada pela sua insuficiência explicativa e correlata aos fatos analisados. Se avançados de forma consciente na formação muito mais complexa dessa alta modernidade que vivemos, não seriam oportunas leituras, afirmações e narrativas rasas.

Gerd não viveu para presenciar, analisar este tempo de contatos, influencias e narrativas cibernéticas, nos deixou justamente no inicio desta era.  Penso que estarrecido, pelo quadro que encontraria poderia lembrar, o quão importante faz-se necessário retomar leituras, aprofundar análises, ter o cuidado seletivo na escolha dos elementos teóricos e metodológicos para não alimentar o vazio do percurso analítico. Para desatar o nó que a modernidade no qual ele, de forma brilhante, já havia demarcado seus princípios e seus passos e decorrências, das contradições que se acumularam e dos desdobramentos conseqüentes.

 Estas decorrências nos colariam numa posição numérica quantitativa que já existe com a emergência das mideas e redes digitais. E, facilmente perderíamos, no turbilhão de informações e imprecisões que comandam de forma hegemônica esse meio, que bate e rebate na formatação e reprogramação cerebral dos humanos de nosso tempo. Muito distante de uma intelectualização onde o pensar comanda os processos geradores de conhecimentos factíveis para viver, compreendendo de forma mais profunda este conjunto de implicações.

Outra postura, difícil de conviver e pertencer a esse mundo, é do aprofundamento constante em nossos estudos e trabalhos científicos, sem dúvida, um caminho espinhoso, de dedicação e de desafetos, de invisibilidade, de não reconhecimento e de afastamento de um convívio social. Ao mestre agradeço a orientação e inspiração para trilhar por esses labirintos enigmáticos do conhecimento. Temo, que se meu grande mestre, hoje vivo, seria mais um pensador, na multidão de surdos, cegos, esses comandados por vozes eletrônicas coisificadas atordoando a todos.

 

OBS: Gerd Bornheim nasceu em 19/11/1929 e faleceu em 05/09/2002 foi um dos maiores filósofos contemporâneos e crítico de arte.

*Paulo Bassani é Cientista Social, Escritor e Prof. Universitário

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