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sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

 Artigo

Santo Antônio da Platina, Paraná, Brasil

13/12/2024


Paulo Bassani


Da formatação biológica a cerebral*


Nós seres humanos, somos antes de tudo animais mamíferos, embora dotados de múltiplas capacidades, nos distinguimos das outras espécies animais por meio de nossa inteligência, imaginação e criatividade. Essas habilidades cognitivas, evolutivamente desenvolvidas, possibilitaram avanços significativos em diversas áreas, científicas e filosóficas desde o uso da linguagem, das artes e das ciências decorrentes. A partir dos estudos da neurociência e da psicologia, sabemos que a mente humana é capaz de operar em níveis complexos, transcendentais até, o que, em teoria, nos permite superar os comportamentos puramente instintivos observados em outros seres animais. Contudo, paradoxalmente, muitas vezes nos envolvemos em práticas determinadas por um cotidiano pragmático que, ao invés de refletirem o uso pleno de nossas capacidades racionais, nos aproxima dos padrões de comportamento mais imediatistas e instintivos não sendo possível estabelecer essas diferenças com os outros seres vivos.

Essas características podem ser explicadas pelo sistema de recompensas no cérebro, especialmente ligado à liberação de dopamina. Estudos de neurociência e da neurobiologia comportamental indicam que a busca pela gratificação instantânea, como prazeres imediatos e impulsos primários, é mediada por mecanismos do processo evolutivo destinados à sobrevivência e reprodução.

No entanto, os seres humanos, estão dotados de um córtex pré-frontal altamente desenvolvido, possuímos a capacidade de estabelecer discernimentos, recompensas e refletir criticamente sobre nossas ações. Ainda assim, devido ao cotidiano pragmatizado, somos frequentemente seduzidos pela busca de soluções rápidas, o que revela um conflito entre a evolução biológica e as demandas externas que são sociais, econômicas, políticas, religiosas e culturais contemporâneas.

Essa busca por respostas e atitudes rápidas pode ser vista como uma tentativa de evitar o pensamento, a reflexão. Algumas correntes da psicologia sugerem que a consciência, enquanto resultado da evolução cognitiva, traz consigo um peso psicológico, situando-se na necessidade de enfrentar a incerteza existencial e a responsabilidade por nossas decisões e escolhas, sobretudo no foro publico.

A fuga para comportamentos instintivos pode ser entendida como um mecanismo de defesa contra o pensar crítico, a necessidade de mentalizar elaborações cruzando informações, aspectos teórico-metodológicos acerca de uma determinada abordagem. Por isso torna-se mais fácil repetir, reproduzir formas morais determinadas por um tempo-espaço cultural onde emergem e são reproduzidas com a única lógica de ser e de pensar.

Ao sucumbir a esses impulsos, internos e externos, os seres humanos não utilizam plenamente seus potenciais intelectuais. A filosofia da mente e a ética apontam para a importância de integrar instintos naturais com a capacidade de esclarecimento, transformando desejos primários oriundo do contexto que vive e das influências que recebe, hoje prioritariamente das redes sócias, em ações que  determinam algo que explica e garante sua maneira de expressar e de viver. Crendo profundamente ser esta a única e bem sucedida forma, pois mudá-la esta muito distante de seu horizonte de vida.  

O que nos distingue dos demais seres vivos animais, não é a negação de nossos impulsos, mas a capacidade de regulá-los e conceder-lhes um valor que ultrapassa o biológico, senso um produto mental da inteligência no uso da imaginação e da criatividade.

Assim, a realização humana, ou seja, o exercício de nossa condição humana segundo diferentes teorias filosóficas e científicas reside na harmonização entre o pensamento e o instinto biológico. Obviamente não se trata de rejeitar nossa biologia animal, mas de transcender suas limitações, utilizando as capacidades cognitivas avançadas para elaborar, construir uma visão de mundo e suas práticas decorrentes fundada em elementos norteadores de nossa condição de seres pensantes, imaginativos, criativos e criadores de forma que se esgotam com o tempo e nos impulsiona a busca e de outros e novas formas. Isso determina uma existência mais complexa e enriquecedora, compatível com as potencialidades únicas de nossa espécie.

*Paulo Bassani é cientista social


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