Folha de Londrina
Publicado em 05/01/2024
Espaço Aberto - pág. 02
Londrina - PR - Brasil
Desafio de educar lideranças ambientais*
Este estudo busca
abordar criticamente a complexidade da interação entre sociedade, meio ambiente
e humanidade, considerando os elementos de ecologia e economia, especialmente
em face das múltiplas deficiências do modelo atual de extração, transformação,
produção e consumo na era da alta modernidade. O enfoque é estabelecer uma
compreensão mais profunda da relação entre natureza e seres humanos, promovendo
diálogos interdisciplinares que enriqueçam a diversidade cultural e recriem o
mundo.
O cerne deste
trabalho reside na busca por uma ressignificação do mundo, resultante da
interação entre diferentes trajetórias, trocas de experiências, linguagens,
cuidados e envolvimentos, na formação de lideranças ambientais. Este processo
contribui para a construção de sociedades sustentáveis, alinhando-se com
princípios delineados na Carta da Terra, nas Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS) para 2030, nas Ecos Conferências
da ONU, nas orientações do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da
ONU (IPCC) e nas Conferências das Partes (COPs) 28 ao todo com esta última nos
Emirados Árabes.
A metodologia
proposta para a formação de lideranças ambientais abrange quatro pilares
fundamentais para esse desafios e esse entendimento:
Princípios e Valores: Inclui uma
imersão profunda no território, apurando o olhar, a audição e a percepção das
manifestações da natureza, visando conhecer seus potenciais e entender o
impacto das ações desenvolvidas.
Intervenção Pedagógica: Emprega
abordagens horizontais e dialógicas, ouvindo todas as vozes e valorizando as
experiências, respeitando os povos originários, com sua cultura e seus
conhecimentos, promovendo assim a participação ativa de todos os envolvidos.
Atitudes e Habilidades Éticas e
Emancipatórias: Integração dos novos conhecimentos com as experiências
individuais, permitindo que cada sujeito se envolva no processo de aprendizado.
Cada sujeito sinta-se co-participe do processo em questão.
Gestão Comunitária: Capacitação para administrar
processos de empreendimento, conscientizando, sensibilizando, motivando e
envolvendo a comunidade de maneira ativa, para trabalhar coletivamente.
Destacam-se a
importância de estimular uma inteligência prudente, atenta e cuidadosa,
enfatizando a necessidade de interação entre diferentes disciplinas, áreas de
conhecimento e dimensões pouco exploradas. O texto advoga que ao longo dos
últimos três séculos, pelas mudanças escolhidas no ritmo e nos roteiros
modernos, gerou um sistema propenso a se tornar autodestrutivo,
desmantelando tudo o que toca e impondo sua lógica. Afirma Boff (2010) “Hoje
pela unificação do espaço econômico mundial nos moldes capitalistas (...)
contra a natureza e contra humanidade torna o capitalismo claramente
incompatível com a vida”. Herdamos uma ciência que, ao invés de promover a
compreensão da vida, muitas vezes resulta na destruição. Nisso é que se
propõe uma abordagem mais ampla, contextualizada e global, em contraposição ao
modelo atual.
A narrativa sugere
que a transformação inicia-se com indivíduos visionários, capazes de imaginar
globalmente e agir localmente, evoluindo para uma compreensão mais profunda e
imprescindível dos desafios civilizacionais. O chamado é para uma ciência
reflexiva e crítica do conhecimento humano em relação à natureza e a si mesmo.
Por fim, entende-se
que essa formação se faz necessário para estruturar uma cultura sustentável,
fundamentada em um novo padrão que vai além da mera etiquetagem dos produtos
como "sustentáveis". É defendida a abordagem da sustentabilidade como
substantivo, promovida pela ciência emergente, que demanda uma revisão completa
das formas de produção e da concepção de mundo guiada pela racionalidade das
ciências e tecnologias modernas.
*Paulo
Bassani é Cientista Social, Sociólogo Ambiental, COPATI.
https://www.facebook.com/paulo.bassani.1
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