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sábado, 25 de novembro de 2023

 Ensaio

Santo Antônio da Platina

Artigo

24/11/2023

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 Inspiração científica tão necessária*

 

O período que abrange o final do século XX até as primeiras décadas do século XXI é notável por uma complexidade e ambiguidade intrínsecas à contemporaneidade, caracterizado por promessas e frustrações. Este intervalo temporal parece simultaneamente ancorado no passado e projetado no futuro, desdobrando-se de maneira desarticulada e imprecisa em relação a diversos aspectos. Neste contexto, Boaventura de Sousa Santos (2003) sustenta que "todo conhecimento científico é socialmente construído, possuindo limites que podem ser ultrapassados, e sua objetividade não implica necessariamente neutralidade". Ademais, ressalta que "a ciência, ao romper com o senso comum, deve evoluir para um novo e mais esclarecido senso comum". Para tanto, o conhecimento científico deve contemplar as profundas transformações que ocorrem em todas as dimensões formadoras da realidade.

A natureza do conhecimento científico é intrinsecamente moldada pelo contexto do observador e analista, cuja perspectiva é delineada por sua interpretação e imaginação científica. Neste sentido, a interação entre o conhecimento científico e o senso comum não deve ser conflituosa, mas sim uma relação equilibrada e respeitosa com as experiências cotidianas, as quais constituem a base da geração do conhecimento científico necessário.

A apreensão do mundo ocorre por meio do contato e das interações socioeconômicas e culturais, que, em conjunto, configuram um mundo multifacetado, caracterizado por diversas determinações que se manifestam de maneira direta e indireta, variando em intensidade. O senso comum, que permeia a vida cotidiana, é caracterizado por ambiguidades, contradições e múltiplas manifestações simultâneas, constituindo uma tarefa desafiadora para o pesquisador. A distinção entre o real e o aparente é complexa, demandando uma análise profunda e atenção aos fatores inter-relacionados que se auto-determinam, determinando contextos complexos em constante transformação.

É crucial reconhecer que a ciência representa um modo distinto de apreender a realidade, fundamentado em preceitos epistemológicos diferentes de outras formas de conhecimento, como religião, senso comum e, atualmente, as redes sociais. A ciência possui sua própria cognição, estabelecendo correlações entre fatores que revelam e explicam contextos ou fenômenos específicos. Isso implica na capacidade de desenvolver sistemas explicativos capazes de lidar com as diversas influências fenomenológicas presentes nas complexas manifestações da sociedade contemporânea, tais como heterogeneidade, diversidade e o contexto de cada ação social correspondente.

Estabelecer como chegamos a pensar o que pensamos e agir como agimos é uma tarefa científica que envolve uma profunda inserção metodológica, atenta a diferentes fatores e dimensões fenomenológicas que determinam o tecido social na alta modernidade.

Uma das principais características da ciência, em nosso tempo, reside em sua capacidade de construir um espaço dialógico para a troca de conhecimento e ideias, alimentando o debate na construção de um corpo de conhecimento científico amplamente aceito e tolerante. Isso pode ser compreendido como a formação de uma comunidade científica, na qual os saberes, mesmo desconhecidos e distantes entre si, são compartilhados por meio de ensaios, artigos, revistas, livros, palestras, cursos e seminários circulantes nos meios acadêmicos e centros de pesquisa.

Esse processo visa criar um ambiente propício para o pensamento, reflexão e crítica em relação aos processos, fatos e fenômenos abordados. Apesar da existência de uma hierarquia de saberes e critérios de validação de conhecimento na comunidade científica, é fundamental reconhecer que sempre há espaço para a imaginação e criatividade, capazes de ultrapassar barreiras em busca de novas formas de produzir conhecimento, adaptando-se às dinâmicas em constante transformação que enfrentamos.

A ciência avança constantemente, criando sempre a perspectiva e a possibilidade aberta de pensar novas formas, novas maneiras em que os fatos e fenômenos analisados, por serem produtos históricos, determinam-se num determinado tempo/espaço, carregando consigo teses e antíteses, afirmações e negações, dúvidas e incertezas. Processos dialéticos que fazem e refazem a ciência de nosso tempo, onde nada é estático, tudo se transforma, e a ciência segue esse caminho. Qualquer tentativa de reter essa concepção se prende a um negacionismo que busca ocupar o espaço crítico e transformador da ciência. Nossa convicção em relação a esta batalha é de que devemos persistir em construtos científicos com as características que apontamos no texto.

   *Paulo Bassani é cientista social, escritor.

            **Gabriel Barbosa Bassani é geógrafo 

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